Vivemos em um mundo que está em constante modificação. Entre tais mudanças a perda de espécies e as temidas alterações climáticas podem afetar vários processos e serviços dos ecossistemas. Um dos mais recentes documentos produzidos pelo IPCC ressalta a importância de mecanismos capazes de minimizar os efeitos negativos destas mudanças nos âmbitos social, econômico e ecológico. No Brasil, a principal preocupação está relacionada às mudanças nos padrões de chuvas, que podem causar secas extremas e/ou inundações em diversas cidades do país.
A Ecologia sempre se preocupou com os processos e mecanismos que afetam a estabilidade nos ecossistemas. No entanto, existem alguns desafios para realizar estudos desta natureza, tal como a dificuldade de realizar manipulações em ecossistemas inteiros e conseguir um nível de replicação suficiente para a validação dos resultados. Como alternativa, o uso de bromélias-tanque como ecossistema-modelo tem ganhado destaque no teste de inúmeras teorias ecológicas.
O Laboratório de Limnologia, em parceria com a University of British Columbia, vem desenvolvendo o projeto: ”Biodiversidade e mudanças climáticas: mecanismos de estabilidade”, através do teste experimental em bromélias-tanque. O principal objetivo do projeto é testar se ambientes mais diversos são capazes de minimizar os efeitos que mudanças nos padrões de chuvas podem causar sobre os ecossistemas. Entre os processos ecológicos analisados neste experimento destacam-se aqueles relacionados à colonização e estruturação de comunidades biológicas e à magnitude e estabilidade de processos ecossistêmicos (decomposição da matéria orgânica, produção primária e fluxo de gases causadores de efeito estufa).
O experimento que compreende este projeto teve duração de seis meses e foi realizado no Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba. O controle dos padrões de chuva foi feito com o auxílio de tendas plásticas, as quais não permitiam a entrada natural da água da chuva, porém permitia a chegada de organismos – como insetos e pequenos invertebrados – que habitam estes ambientes. O estabelecimento dos cenários de chuva foi feito baseados nas duas principais previsões para o Sudeste brasileiro: 1) aumento na frequência de chuvas extremas e 2) mudanças na distribuição dos eventos de chuva. A partir destes cenários, foram feitas “chuvas simuladas” em cada bromélia, com o auxílio de um regador.
Ambientes aquáticos continentais estão entre os ecossistemas mais sensíveis às mudanças nos padrões de chuva e à perda de espécies, dada à pressão das atividades humanas a que estão submetidos. Como ecossistemas aquáticos têm grande valor ecológico e social, esforços para estabelecer estratégias adequadas para sua conservação, gestão e manejo são muito importantes. Nossa expectativa é fornecer novos argumentos para a conservação da biodiversidade em ambientes aquáticos, em especial, caso os resultados deste experimento indiquem que os ecossistemas com maior número de espécies sejam mais estáveis sob o efeito de determinados impactos.
Este experimento constitui a tese de doutorado da aluna Aliny Patrícia Flauzino Pires e a dissertação de mestrado da aluna Juliana da Silva Leal, ambas orientadas pelo professor Dr. Vinicius Fortes Farjalla.
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