Quem nunca viu o clássico da Disney, O Rei Leão? Para aqueles que viram eu diria que muitos irão recordar desta passagem entre Simba e seu pai Mufasa:
“Mufasa: Tudo que você vê faz parte de um delicado equilíbrio. Como rei você tem que entender esse equilíbrio e respeitar todos os animais, desde a formiguinha até o maior dos antílopes. Simba: Mas nós não comemos os antílopes? Mufasa: Sim Simba, mas deixe-me explicar. Quando você morre seu corpo se torna grama e o antílope come ela. E assim, estamos todos ligados no grande ciclo da vida.”
Certamente muitas pessoas foram sensibilizadas por esta bela passagem do filme, entretanto a realidade das relações ecológicas pode ser muito mais cruel do que o relatado nessa romântica passagem de O Rei Leão. É conhecido por biólogos e pesquisadores naturais uma série de relações desvantajosas para algum dos lados em que necessariamente alguém vai sair perdendo. Um exemplo dessas relações é a própria predação, citada na passagem do filme, em que alguém morre para outro sobreviver. Mas alguém poderia dizer: Aaahh, todo mundo precisa se alimentar!! A natureza não é cruel por causa disso!! Então vamos a mais alguns exemplos.
Existem algumas espécies de vespas que depositam seus ovos dentro dos ovos ou larvas de animais de outras espécies (formigas, borboletas, aranhas e etc.) e conforme essas larvinhas de vespas eclodem se aproveitam do cuidado parental alheio ou até mesmo se alimentam do seu hospedeiro vivo (isso me parece bem cruel!), levando-o, obviamente a morte. Imagine só, você uma borboletinha, põe seu ovo com todo carinho, ele vira uma linda lagarta até que vem uma vespa, põe um outro ovo dentro dela que vai come-la viva!! Confesso, que tenho um certo medo das vespas!
Para os fãs da moda zumbi, permitam-me dizer que isso não é novidade na natureza! Formigas poderiam ser as novas protagonistas da famosa série The Walking Dead, pois é documentado o comportamento zumbi destas formigas após a infecção por um fungo. Os esporos do fungo se estabelecem no pequenino cérebro das formigas e começam a interferir em seu comportamento, enquanto isso, o fungo se alimenta dos órgãos internos da formiguinha. Quando a formiga finalmente morre, em um lugar onde o fungo pode terminar seu ciclo de vida, nasce um cogumelo de sua cabeça! Veja um vídeo incrível sobre isso aqui
Um ótimo livro que li recentemente que nos mostra como se dão as relações na natureza, emprestado pelo Prof. Reinaldo Bozelli, é o “Tem um cabelo na minha terra!” que com uma linguagem acessível e lúdica conta a história de uma linda donzela cujo cabelo vai parar no prato de comida (no caso terra) do jovem Minhoquinho, mas essa história eu deixo pra vocês conferirem no próprio livro! Vale à pena!
Tem um cabelo da minha terra!
Mas por que muitas vezes quando nos deparamos com essas relações naturais temos essa sensação estranha de desapontamento, às vezes surpresa ou até mesmo incredibilidade? Na verdade, o entendimento do que é cruel, certo, bom ou errado é totalmente human0, sujeita ao contexto histórico, cultural, econômico, social e a interesses diversos. A natureza certamente não segue as regras sociais humanas, embora constantemente tentamos encaixa – la nas nossas, as vezes vagas, falhas e subjetivas definições e visão de mundo. Mas deixo aqui uma pergunta, será que não somos igualmente “cruéis” nas nossas relações puramente humanas? Acho que não é difícil perceber isso, basta olhar na próxima esquina, no próximo edital de seleção de qualquer coisa, no próximo noticiário. Por fim, para ilustrar um pouco disso tudo, deixo uma fala do vilão(ou não) do filme:
“Scar: A vida não é justa não é? Entenda, eu… ora… eu nunca serei rei… e você… você nunca mais verá a luz de outro dia.”