Muito do conhecimento ecológico gerado no meio científico pode ser aplicado na solução dos problemas ambientais que a sociedade vivencia hoje. No entanto, é comum que políticas públicas sejam implementadas e decisões tomadas sem uma resposta adequada a diversos questionamentos: como funcionam os ecossistemas aquáticos? Como diferentes impactos podem afetar as características destes ambientes e como podemos detectar estas alterações? Como os recursos destes ecossistemas podem ser utilizados de forma sustentável, através de boas práticas de gestão e manejo? O que pode ser feito para restaurar ambientes impactados? E para conservá-los?
Um dos mini-cursos da Biosemana 2013 tratou justamente deste tema. No curso “Bases ecológicas para a gestão e manejo de ecossistemas aquáticos” foram apresentados e discutidos diversos tópicos relacionados ao uso da ecologia aquática em práticas de gestão, conservação e restauração destes ambientes.
Impactos ambientais, por exemplo, ocorrem com cada vez mais frequência nos ecossistemas aquáticos. Construção de barragens, despejo de esgoto, introdução de espécies exóticas e sobrepesca são alguns exemplos, destas alterações negativas que alteram propriedades importantes dos ambientes naturais. O monitoramento limnológico pode ser aplicado na detecção prévia destes impactos e avaliação dos danos, constituindo uma parte importante na boa gestão de ambientes naturais. O biomonitoramento com macroinvertebrados aquáticos, por exemplo, é uma ferramenta cada vez mais utilizada com estes objetivos.
Conceitos ecológicos também estão presentes no manejo e conservação de recursos naturais. O manejo sustentável de recursos pesqueiros, por exemplo, deve ser realizado com base na capacidade de crescimento das populações exploradas, assim como na capacidade de suporte de cada ecossistema.
A seleção de locais para conservação e o desenho de áreas protegidas também pode se basear em critérios ecológicos. Riqueza de espécies, alto grau de endemismo, heterogeneidade ambiental e variabilidade genética são fatores que influenciam na escolha de uma área.
Existem também diversas técnicas de restauração de ambientes aquáticos. Em lagos eutrofizados podem ser utilizados meios físicos – como a dragagem -, químicos – como o uso de substâncias que tornam inertes os nutrientes em excesso na água – e biológicos, como a introdução de organismos capazes de reduzir a biomassa de algas e macrófitas que apresentem crescimento exagerado. Cada um destes métodos possui vantagens e riscos, que devem ser bem compreendidos e analisados antes da sua utilização.
Uma experiência bem sucedida de recuperação, ainda em andamento, é a do Lago Batata, na bacia do Rio Trombetas. Este lago amazônico, impactado por rejeito de minério ao longo de muitos anos, passou por um longo processo de recuperação de suas matas ciliares. Através do estudo das condições limnológicas do lago, assim como da mata de igapó e dos efeitos do pulso de inundação, foi possível propor uma série de intervenções. Hoje algumas áreas apresentam grande melhora na cobertura vegetal e é possível observar o avanço da recuperação natural em diversos pontos.
Como discutido no curso, os problemas ambientais são complexos e exigem uma abordagem minuciosa, embasada no melhor conhecimento disponível. A ecologia aquática pode e deve ser aplicada cada vez mais a fim de melhorar as condições dos ambientes naturais e evitar da melhor forma possível a ocorrência de novos danos.
Parabéns pela iniciativa Vinicius!
Os mini-cursos tem um papel fundamental na formação complementar dos alunos do instituto de Biologia! Este tema, principalmente, é pouco trabalhado mesmo no Bacharelado em Ecologia.
O manejo de ambientes aquáticos, porém, deve zelar por uma série de fatores que incluem a questão paisagistica. Qual sua opinião sobre o manejo de ambientes aquáticos totalmente inseridos no meio urbano e já degradados, tais como as lagoas de Jacarepaguá?
Muito obrigada!
Gostaria de acrescentar ao comentário da Aliny um ecossistema aquático da região norte fluminense, a lagoa de Imboassica. Além disso, tenho percebido que, em geral, os gestores ambientais em nosso país esperam os problemas acontecerem para depois tentarem uma solução. Percebo isso no município de Rio das Ostras, onde até vejo a criação de unidades de conservação mas as mesmas acabam deixadas à própria sorte. Cito como exemplo a ARIE de Itapebussus, que carece de um plano de manejo (eu pelo menos desconheço) e maior fiscalização por parte do poder público.
Um abraço!