Eu me apaixonei por essas plantas durante a minha graduação em biologia na UFRJ. Durante toda minha iniciação científica, eu desenvolvi trabalhos sobre a dinâmica do metano em ambientes aquáticos e sempre esbarrava nas tais macrófitas aquáticas. Isso porque são muito importantes para os processos que envolvem esse gás, como sua produção, oxidação e emissão para atmosfera e também para um montão de outras coisas. Por fim, larguei o metano e fui me aventurar a trabalhar só com as MACRÓFITAS.
Mas você trabalha com macrófi…o que? Essa pergunta é feita por muita gente! Esse é o termo mais utilizado para falar de um grupo diverso de vegetais, visíveis a olho nu, que habitam desde brejos até ambientes verdadeiramente aquáticos. Possuem suas partes fotossintéticas permanentemente ou periodicamente (várias semanas ou diversos meses no ano) total ou parcialmente submersas na água ou ainda flutuantes na mesma. Esse grupo inclui desde macroalgas até plantas com folhas que podem atingir 2,5 m de diâmetro e suportar até 40Kg bem distribuídos (não, não aguenta um homem), como a gloriosa Vitória-régia (Victoria amazonica). Dada essa tamanha variedade de espécies presentes no grupo, essas plantas são classificadas quanto ao seu tipo biológico, simplificando, onde podem ser encontradas.
O esquema acima explica bem a tamanha variedade de tipos e habitats que estão bem adaptadas a viver. Muitas possuem suas raízes fixas no sedimento e suas folhas e flores parcialmente fora d’água (emersas), como a taboa (Typha domingensis), o capim navalha (Cladium jamaicense, Fuirena umbellata), o junco (Eleocharis sp.) e o papiro (Cyperus giganteus). Outras mantêm suas folhas flutuando, o que as tornam particularmente as minhas preferidas, como a vitória-régia (Victoria amazonica), o lírio d’água (Nymphaea sp.) e a lagartixa (Nymphoides sp.). Tem as que vivem submersas, sendo elas livres, como o lodo (Utricularia sp. e Ceratophyllum sp.) ou fixas no sedimento, como o musgo d’água (Mayaca fluviatilis) e o lodinho branco (Elodea sp.). Por último, mas não menos importante, as flutuantes, que são representadas pelo aguapé ou também conhecida no pantanal como camalote (Eichhornia sp.), pela orelha-de-onça (Salvinia sp.) e o famoso alface d’água (Pistia stratiotes). O grupo das macrófitas anfíbias não aparece no esquema porque não são consideradas aquáticas no sentido restrito, tolerando tanto períodos secos e de cheia (p.ex. Mimosa, Florzeiro).
Para dificultar a vida daqueles que estão começando a trabalhar (ou que já trabalham e não desistiram) com essas plantas, nem todas seguem essa regrinha. Dependendo da condição do habitat, tem espécies que se apresentam em um determinado forma e mudam conforme o habitat muda, por exemplo, o Echinodorus tenellus (erva do pântano), pode ser encontrado na forma submersa em nível d’água alto ou emerso em nível baixo. Já a Eichhornia azurea (aguapé) varia de forma de acordo com a idade. Quando jovem é uma submersa fixa, mas quando adulta torna-se emersa ou de folha flutuante, dependendo da classificação adotada (ainda tem isso!).
Considerando somente as plantas vasculares, a região neotropical é detentora da maior diversidade de macrófitas aquáticas contabilizando 984 espécies, onde 247 são encontradas no Pantanal até o momento. No Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba, onde nós do Laboratório de Limnologia/UFRJ desenvolvemos uma grande parte dos nossos estudos, são encontradas por volta de 90 espécies.
As macrófitas aquáticas são de extrema importância para o funcionamento e manutenção dos ecossistemas aquáticos, sendo fonte de matéria orgânica, influenciando na ciclagem de nutrientes, fornecendo alimento, abrigo e local de reprodução para fauna, poderia continuar listando por um bom tempo. Além de toda essa importância ecológica e do fato de nos proporcionar tamanha beleza, são ainda de grande interesse para nós visto que muitas espécies são utilizadas para fins medicinais, artesanato, ornamentação, adubação, tratamento de efluentes, aquariofilia e na alimentação. Contudo, podem se tornar uma praga devido ao seu rápido crescimento, causando enormes prejuízos. Uma vez eu li uma frase no livro do Arnildo Pott, de Plantas Aquáticas do Pantanal, a qual eu gostei muito, que dizia assim: “Invasoras aquáticas são sintomas de problemas ambientais e muito raramente a sua causa”.
Eu gostaria de escrever mais algumas páginas tentando relatar como esse grupo é tão fascinante, mas vou acabando por aqui! Para aqueles que simpatizaram pelo grupo, eu recomendo! Para aqueles que leram apenas por curiosidade, PRESERVE!!!!
Muito bom seu trabalho, estou no ultimo período da faculdade, sou estudante de engenharia de pesca e estou fazendo meu trabalho de conclusão de curso com macrófitas aquáticas.
Boa tarde. Essa publicação foi feita com base em algum artigo? Se sim, qual a referência?
Boa tarde Cibele. Obrigado pelo interesse em nosso blog!
Esse texto foi redigido com base na experiência pessoal da autora Antonella.
Sobre os conceitos mais amplos sobre macrófitas, você pode consultar o livro Fundamentos de Limnologia, do autor professor Francisco de Assis Esteves da editora Interciência.
Ótima leitura de nossos textos!