Depois de alguns anos fazendo parte de um laboratório de pesquisa, nós adquirimos alguns vícios. Mesmo sem perceber, a gente se pega seguindo sempre a mesma cartilha: aprendemos a bolar um plano que gira em torno de uma questão ecológica, pesquisamos, levantamos hipóteses, testamos, recorremos aos amigos que entendem de estatística, achamos uma explicação parcimoniosa e (se Deus quiser) publicamos um artigo!
Por isso, muitas vezes nós nos sentimos despreparados para enfrentar o mercado de trabalho. Mas não se engane. Nossos vícios também representam grandes virtudes! Antes de concluir o mestrado eu caí de paraquedas em uma empresa que estava precisando justamente de um limnólogo, que pudesse se responsabilizar por um projeto de recuperação de lagoas costeiras. E essa experiência, é claro, precisava virar um post! Então vamos discutir as principais dúvidas…
Será que eu estou preparado?
Sim. Por mais que as empresas tenham objetivos bem diferentes daqueles almejados pelos institutos de pesquisa, as qualidades exigidas e exercitadas no meio acadêmico atendem perfeitamente às demandas do mercado de trabalho. Em um laboratório de limnologia, aprendemos a coordenar atividades, a gerenciar equipes de campo, a fazer solicitação de orçamentos e compra de material, a elaborar projetos, a elaborar relatórios, a fazer experimentos em micro e meso escala, a discutir resultados, a investigar falhas… Além disso, aprendemos técnicas de coleta em campo (mesmo que não trabalhemos diretamente com o objeto coletado em questão), técnicas laboratoriais (normas básicas, uso de EPIs, análises químicas, etc), ferramentas estatísticas e até ferramentas específicas como identificação de comunidades biológicas (zooplâncton, fitoplâncton, bactérias, macrófitas, macroinvertebrados) e análise de emissão de gases. O que mais uma empresa pode querer?!
Somos Biólogos/químicos/matemáticos/gestores/administradores/filósofos… Ou seja, limnólogos!
Então, se você faz parte de um laboratório e pretende se embrenhar no mercado de trabalho trate de aproveitar TODAS as oportunidades que seu laboratório pode te proporcionar. Toda experiência vale à pena e te torna um profissional cada vez mais completo.
Academia e Mercado de trabalho no octógono!
Obviamente, trabalhar em uma empresa tem seus prós e contras em relação à área acadêmica. A principal vantagem, indiscutivelmente, é ter sua carteira de trabalho assinada aos 25 anos. Muitas vezes nós nos preocupamos em nos lançar no mercado de trabalho depois dos 30, sem termos tido “nenhuma experiência”. Piada, né? Mas é assim que encaram um aluno recém saído do doutorado. Isso com certeza entra em outro tópico de discussão, bem delineado pela prof. Suzana Herculano, a profissionalização do cientista. E quem sabe vira tema de outro post?!
Mas é possível citarmos outras vantagens de ingressar no mercado de trabalho, como o aprendizado de uma nova linguagem, uma nova postura. Também é possível ver uma aplicabilidade direta de sua pesquisa ou mesmo dos resultados da sua rotina de trabalho. Isso nos motiva e talvez a falta desta aplicabilidade decepcione um pouco alguns futuros cientistas.
Outro grande choque é o conhecimento de um mundo onde espremem sua pesquisa até ela virar lucro. Contudo, o investimento em pesquisa é um investimento de risco, uma vez que os resultados nem sempre agradam a Gregos e Troianos. Isso pode gerar uma pressão por parte de investidores que estão acostumados a relações comerciais de lucro imediato. Mas se por um lado isso é ruim, podemos encarar esta situação como um desafio e convertê-la em experiência! Precisamos aprender a lidar com um mercado competidor e que exige cada vez mais do nosso jogo de cintura.
A falta de liberdade talvez seja o principal ponto a favor da academia. Não só a liberdade de horários, mas também a liberdade de criação e execução de idéias. Muitas vezes você precisará submeter as suas opiniões às vontades e aos objetivos da empresa. Isso também pode ser frustrante se não soubermos lidar da melhor forma. Por isso, se sua cabeça está fervilhando de idéias e planos, talvez a vida acadêmica seja mais a sua cara!
Aposte nas microalgas!
Por fim limnólogo, se você está pensando em investir numa ferramenta que abra suas portas para o mercado de trabalho eu sugeriria as microalgas. Como todos nós sabemos, a eutrofização artificial é o principal problema dos corpos d’água continentais. Por isso, existe uma demanda enorme nas empresas (tanto de consultoria quanto de soluções ambientais) em entender melhor os processos que permitem o controle das florações de cianobactérias, principal resultado da eutrofização. Assim, a busca por profissionais aptos a identificar e entender a ecologia do fitoplâncton está crescendo cada vez mais. Finalmente eles entenderam que precisam de nós!