Embora a frase do título possa parecer um pouco confusa, sua idéia é bem simples. Para entendê-la, vamos começar com uma pergunta: o que os edifícios, as usinas nucleares e as comunidades biológicas tem em comum?? A resposta é: Redundância funcional. Os grandes edifícios das cidades apresentam pilares e colunas que são redundantes quanto a sua função, todos servem para manter o prédio em pé. Mas ter colunas redundantes que dizer na verdade que mesmo que uma ou algumas das colunas apresente problemas, o prédio não desabará ou pelo menos teremos algum tempo para repará-las antes que isso aconteça. Já as usinas nucleares, apresentam redundância funcional em seu sistema de segurança. Elas podem apresentar diversas barreiras contra vazamento de radiação, simplesmente pelo fato de que se uma dessas barreiras falhar ainda existirão outras com a mesma função, o que garante a eficiência do sistema de segurança. E as comunidades biológicas?
Há muito é conhecido pelos biólogos e ecólogos que as comunidades biológicas apresentam muitas espécies raras, ou seja, espécies que apresentam baixo número de indivíduos enquanto que outras poucas espécies detém a maior parte da abundância, chamadas assim de dominantes. São nessas espécies raras que pode residir à redundância funcional das comunidades biológicas. Diversos pesquisadores tem enfatizado a importância das espécies raras e redundantes para a manutenção dos processos ecossistêmicos, como por exemplo, a ciclagem de nutrientes e produtividade primária. Isto porque, dado que estas espécies desempenham a mesma função (=redundância funcional), a extinção de uma ou algumas destas espécies não terá influência sobre o funcionamento dos ecossistemas, já que existem outras que irão desempenhar o mesmo papel. Bem parecido com o que vimos sobre os prédios e as usinas.
Gráfico hipotético mostrando a distribuição de indivíduos ao longo das espécies. Aquelas com maior número de indivíduos, podem ser consideradas dominantes, enquanto que as demais são raras.
É nesse contexto que se desenvolveu a minha dissertação de mestrado: Importância das espécies raras na manutenção da diversidade funcional zooplanctônica em ambientes costeiros sujeitos a alterações ambientais. Nesse trabalho, desenvolvido sob a orientação do Prof. Reinaldo Bozelli e da Drª. Adriana de Melo Rocha, buscamos entender como as espécies raras contribuíram para manter a diversidade funcional do zooplâncton, mesmo quando algumas espécies foram extintas, principalmente em função de variações de salinidade.O estudo foi feito em duas lagoas costeiras localizadas no Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba ao longo do período de janeiro de 2002 até dezembro de 2007 e pudemos perceber que as espécies raras foram essenciais para os ecossistemas, pois mesmo com perdas de até 60% do número total de espécies, pouco foi perdido nos valores de diversidade funcional e na expressividade das características funcionais da comunidade.
Lagoa avaliadas nestes estudo, ambas localizadas no Parque Nacional da Restigna de Jurubatiba. Em cima Lagoa Cabiúnas e embaixo a Lagoa das Garças.
Em suma, o que pudemos evidenciar foi: A raridade é essencial, dada sua redundância! Se quiser saber um pouco mais sobre este trabalho, a apresentação e defesa da dissertação será realizada no próximo dia 21 as 13h no Salão Azul do Instituto de Biologia.
Olá. Sou aluna de mestrado (unicamp) e tenho muito interesse em ler sua tese de mestrado pois estou escrevendo um ensaio para uma disciplina de Comunidades em que trato da importância das espécies raras nos processos ecossistêmicos, e me ajudaria muito ler a sua tese e suas referências bibliográficas como auxílio para o meu trabalho, se não for incômodo. Tem algum link em que a tese está disponível? Agradeço a atenção e aguardo retorno,
Verônica.