* Os textos dessa seção são opiniões pessoais dos autores e não representam a posição do Laboratório de Limnologia
Quando me convocaram para escrever no blog, pensei em falar sobre muita coisa… Há uma série de questões ecológicas e ambientais em debate, o momento político e o financiamento em pesquisa desigual no país. Todos são temas de importância ímpar para o caminhar científico. Entretanto, resolvi tratar, talvez, do mais importante componente deste processo: o cientista; e através de uma experiência pessoal, mas construída juntamente com as experiências dos meus colegas acadêmicos, discutir a locomotiva da ciência: a mente humana.
A principal premissa do meu discurso é que a ciência é feita por seres humanos que possuem outros sentimentos além de sua curiosidade científica. São pessoas que sofrem, choram, sonham e se decepcionam. Gostam de dançar, beber, encontrar amigos e familiares. Isto mesmo, cientistas também possuem vida social, ou pelo menos deveriam, e consequentemente, são afetados por todos estes componentes.
É cada vez mais recorrente estudos que buscam pelo segredo da felicidade. A felicidade, agora e afinal, é uma regra. E o mundo acadêmico não está imune a esta discussão, mais do que isso, eu diria, seria o filé mignon de psicólogos e terapeutas. Não é atoa que sites como o “PhD Comics”, “Baby, o pesquisador” e “Paola, a pesquisadora” fazem tanto sucesso! Por quê? Porque tratam de mazelas comuns à Ciência, o que sugere tratar de características intrínsecas ao meio acadêmico!
A Academia é, reconhecidamente, um ambiente competitivo. Em Ecologia, a competição emerge de um ambiente com poucos recursos. Na ciência, não há espaço na Nature para todos os artigos, não há recursos para financiar todos os projetos, não há tempo para se dedicar a todos os orientandos, não há uma cadeira de chefe para todos e o ser humano, por sua essência, quer tudo isso. Com os devidos ajustes, creio que seja isto o que aconteça em todas as outras áreas.
Acontece que a Ciência, diferentemente de muitas áreas, é movida pela criatividade, característica altamente afetada por um componente pessoal. É a criatividade que estimula e que permite o teste de hipóteses e o empirismo que predomina no meio acadêmico. O papel da criatividade já foi reconhecido, inclusive, para a evolução da espécie humana.
Agora pense comigo: Se para fazer ciência é necessário ser criativo, se para ser criativo é importante que você esteja “bem”, é possível fazer ciência sem ser feliz?
Na minha opinião, é cada vez mais evidente que o sucesso tem um importante papel na motivação de um cientista, mas, de longe não é o mais importante. No livro “O Andar do Bêbado” que trata sobre conceitos de probabilidade através de uma linguagem mais acessível. O autor Leonard Mlodinow exemplifica a lógica e as consequências do “Sim” e do “Não” através da indústria cinematográfica e conclui que Hollywood, mais que um lugar cheio de diretores talentosos, é um lugar cheio de diretores persistentes. Há quem diga que o genial pintor holandês Vincent Van Gogh não vendeu um único quadro sequer em vida. Quem nunca ouviu relatos de pessoas extremamente talentosas que receberam muitos “Nãos” no inicio de sua carreira? Na Ciência é a mesma coisa.
Quantas vezes não nos decepcionamos profundamente com a rejeição de um artigo, o experimento que não deu certo, a não aprovação de um projeto, aquele concurso que não passamos ou com a tese que nunca fica boa? A decepção é profunda, pois sabemos o quanto nos dedicamos a cada uma destas atividades e quantas expectativas criamos em cima de seus produtos. A Ciência, porém, é um lugar onde se apanha, pois nossa expectativa em cima do nosso trabalho é muito grande e a vaidade quase inata do ser humano torna todo “Não” um grande balde de água fria… O ambiente acadêmico nos remete, portanto, a um ambiente frustrante e esta frustração continuada é que promove o “êxodo acadêmico”.
Entre as justificativas para aqueles que “ficam” destaca-se o papel do estímulo que recebem das pessoas ao seu redor. Por outro lado, é comum, porém, que aqueles que ficam, sigam frustrados e reclamando da vida, dos colegas, do orientador, dos alunos, dos dados, da Universidade, do Programa de Pós Graduação, do programa estatístico… É um ambiente de reclamação! Você já reparou o quanto isto ocorre em seu ambiente de trabalho? Possivelmente, sim! O que você não reparou ainda é quanto isto te faz mal! Quantas vezes um colega começou uma conversa reclamando de alguma coisa que o afligia e você terminou a conversa desacreditando de tudo? Desmotivado? Cansado?
Já pensou como seria esta conversa se assim que ele se juntasse a você para se lamuriar de alguma coisa, você revertesse a história com uma visão objetiva e prática do problema: “Qual é o problema? Como posso te ajudar?“
Sim! Um ambiente colaborativo pode render bons frutos direta e indiretamente. Sabe aquela ajuda que você deu a um colega e não tinha absolutamente nada a ver com seu trabalho?
1 – Ela pode vir a ter.
2 – Ela estimula sua criatividade, com novos aprendizados.
3 – Ela te mobiliza e motiva.
4 – Ela promove o senso coletivo.
Mude o seu ambiente de trabalho com uma postura positiva e colaborativa das coisas! Acredite! É revigorante!
Portanto, pare de se lamentar e trabalhe com a sua realidade. Seu orientador não responde e-mails, converse com ele e marque uma reunião. Seu aluno não te entrega aquele trabalho? Marque uma reunião e se disponha a ajudá-lo a solucionar o problema. Seus colegas não se prontificam no seu trabalho de campo? Marque um seminário, conte a eles do seu trabalho e convoque-os. Seus dados não são normais? Transforme-os ou tente uma distribuição de Poisson. O que quero dizer é: Pare de reclamar e mobilize-se! Pare de apenas reconhecer os defeitos dos outros! Reconheça também os seus e mude a situação!
Sendo assim, a pergunta que estes dias estava em um quadro/ artigo no laboratório: “Você é feliz fazendo Ciência?”
Minha resposta é firme e direta: Sim!
Sua resposta é “Não”?
Calma!
Repense sua postura diante do seu trabalho e veja se você não está se sabotando, sabotando seus amigos e seu grupo.
Sua resposta é: “Não, eu não me saboto!”
Reveja se seu grupo e amigos não estão te sabotando e reverta a situação.
Sua resposta é: “Não, meu grupo me apoia e meu orientador é dedicado!”
A pergunta é: “Há quanto tempo você tem este sentimento? ”
Sua resposta é: “Sempre!”?
Repense sua carreira! Sim, não acredito que valha a pena viver infeliz, mesmo que seja na Ciência. A felicidade deve ser O (com letra maiúscula) objetivo da nossa vida. A grande questão é se o que esta lhe faltando não é organização e uma mudança de postura em relação a isto.
Tenho plena convicção que a Ciência, mais do que recursos e projetos aprovados ou questões ecológicas da moda, se beneficiará se contar com um cientista motivado e feliz!
Pensa diferente? Quer dividir sua experiência? Conte pra gente!
Em uma linha de trabalho que é predominantemente criativa, mas que exige disciplina constante, é difícil discutir a relação entre produtividade e felicidade. É isso aí, temos que encontrar verdadeira motivação, e sempre se perguntar se este é o caminho que queremos! Ótima reflexão, Professora!
É Dani, realmente há uma série de nuances na relação entre produtividade e felicidade… O que torna este um desafio ainda maior! O que me impressiona, é o fato de ainda, não termos focado a questão da produtividade no ser que produz, o cientista! Vejo inúmeras tentativas de se estabelecer protocolos para um trabalho produtivo, que ao meu ver, não funcionam! Se todos os esforços se voltassem para manter o cientista motivado, este seria um caminho mais certo! Eis que surge uma nova pergunta: Como manter o cientista motivado? Este é papo para outro post! 😀