Depois de muito pensar, resolvi escrever um texto dando conselhos. Sim, meus caros colegas: conselhos. Peço perdão pelo meu atrevimento. Afinal, quem sou eu para dar conselhos científicos? Sou apenas um estudante recém-ingressado no doutorado. Ainda estou muito longe de ser um daqueles grandes cientistas, com anos de carreita e muitos artigos de ponta publicados. Mas por outro lado, por estar ainda (muito) no início de minha carreira científica, estou por dentro de algumas dificuldades que jovens limnólogos (inclusive eu) tem, além das expectativas em relação ao futuro.
Estou lendo o livro “Cartas a um Jovem Cientista”, do biólogo americano Edward O. Wilson. Este livro foi uma das minhas inspirações para escrever este texto. Não tenho aqui a pretensão de dar os melhores conselhos possíveis; pelo contrário, meu principal objetivo é abrir uma discussão do que podemos falar para motivar e inspirar a todos aqueles que começam na carreira científica, inclusive eu próprio. Bom, chega de conversa fiada. Vamos aos conselhos.
1-O mundo precisa de você
Já começo errado, pois o meu primeiro conselho não é um conselho – e não é meu. É uma frase que li no livro do Edward Wilson: o mundo precisa de você. Sim, meu caro jovem cientista limnólogo, o mundo precisa de você. Lembre-se disso sempre. Grande parte da diversidade biológica da terra ainda é completamente desconhecida da ciência. E mesmo entre as espécies formalmente conhecidas pela ciência, a maioria é apenas um nome científico com uma breve descrição morfológica – não se sabe nada sobre seus aspectos ecológicos, comportamentais, bioquímicos, entre outros. Para piorar, espécies vem sendo extintas a uma taxa alarmante. Ecossistemas inteiros tem sido perdidos e alterados pela ação humana. Mudanças climáticas globais, acidificação dos oceanos, invasão biológica. São tantos problemas que não dá para lembrar de todos. O que nos leva de volta ao início do parágrafo: sim, meu amigo limnólogo cientista: você É necessário.
2-Saiba aonde você quer chegar – ou pelo menos pense sobre isso
É normal ter dúvidas e incertezas sobre o futuro. Todo mundo tem. Mas nunca se esqueça: o primeiro passo para chegar em algum lugar é saber onde se quer chegar. Não corra o risco de ficar andando em círculos ou ficar parado no mesmo lugar. Tem muita gente por aí que não chega em lugar algum não por falta de capacidade, mas por não saber aonde quer chegar. Claro que é bom pensar em um objetivo plausível. Acabar com a poluição no mundo ou salvar todas as florestas não é algo para fazer na carreira de uma pessoa só.
Depois de saber onde você quer chegar profissionalmente para ser feliz, é necessário se planejar, e replanejar quando as coisas não dão certo. Em outras palavras: corra atrás!
3- Saiba mexer nos dados que coletar
Outro conselho que eu me atrevo a dar é sobre os dados. Na limnologia e ciência em geral você sempre trabalhará com dados. Portanto, aprenda a mexer neles! Isso inlcui estatística: é necessário aprender a realizar um bom delineamento, e em seguida, saber como analisar os dados e construir gráficos informativos. provavelmente você já ouviu alguma coisa sobre como a estatística é importante. Um outro detalhe que eu quero adicionar é sobre o armazenamento de dados. Quando for tabelar os dados, tabele de uma forma que você vai conseguir usar em um programa estatístico mais tarde. Além disso, pense pelo menos um pouco em armazenamento a longo prazo, de forma que esses dados não se percam com o passar dos anos.
4-Não se esqueça da sociedade
Cientistas divulgam seus resultados para outros cientistas principalmente através da publicação de artigos científicos. Essa comunicação também é feita através de outras formas, como apresentação de trabalhos em congressos, mas o que todas essas formas de comunicar ciência tem em comum é que são feitas de cientistas para cientistas, com pouca ou nenhuma abertura para não cientistas receberem a mensagem
Conhecimento científico é necessário para melhorar as mazelas da sociedade, mas tal interação academia-sociedade é por vezes escassa e até inexistente. Com isso meu conselho é que você nunca se esqueça de interagir com a sociedade. Arranje algum tempo em sua carreira para difundir o conhecimento acadêmico fora do meio acadêmico. Podem ser atividades de educação ambiental, exposições, e até interação com unidades de conservação. Lembre-se: você é importante. Mas de nada adianta a ciência (e os cientistas) fechada em si mesma.
Para finalizar, retomo o que eu disse lá em cima: essa não é de maneira nenhuma uma lista fechada, mas uma tentativa de iniciar uma discussão. Portanto, deixe seu comentário. Afinal, eu também preciso da sua opinião 🙂
Arrasou Elder!