Olá a todos, me chamo Fábio Oliveira Vaz e sou aluno de iniciação cientifica do laboratório de limnologia da UFRJ. Foi incumbido a mim, a tarefa de falar um pouco sobre um grupo do zooplâncton que é pouco conhecido, os chamados Anostraca conhecidos popularmente como “fada camarão”. Esses indivíduos pertencem ao subfilo Crustacea, da classe Branchiopoda e da ordem Anostraca.
Esses organismos possuem um tamanho que varia de 10-20mm dependendo da espécie, são herbívoros filtradores de alta eficiência, se alimentando de fitoplâncton. Eles possuem baixa locomoção e vivem nadando de “cabeça para baixo”, a parte ventral do corpo fica voltada para a lamina d’água e estes nadam na coluna d’água. A distribuição do grupo na coluna de água é em manchas, e pode estar relacionada com a formação de bloom de fitoplâncton. Os Anostraca possuem uma forma de locomoção associada à alimentação, pois se alimentam com o bater dos apêndices torácicos localizados na parte ventral do corpo, que criam uma corrente que causa a movimentação dos mesmos e acaba levando o alimento até a boca.
Essa forma de se alimentar e locomover acaba causando um impacto na comunidade zooplanctônica, pois a corrente criada pelos Anostraca acaba puxando organismos menores como náuplios, rotíferos e pequenos cladóceros e estes quando não acabam morrendo pelos danos mecânicos, sofrem perda de estruturas e comprometimento do desenvolvimento do ciclo de vida. Com essa característica que esse grupo possui, ser um organismo que é herbívoro mas causa um impacto na população semelhante à de um predador, ele pode ser considerado um tipo de “espécie chave” onde ele é encontrado.
Como organismos zooplanctônicos são os principais elos entre os produtores e os consumidores dentro da teia trófica aquática, estes organismos possuem alto valor energético associado a eles, o que faz com que os Anostraca sejam predados por outros indivíduos, como peixes. Por esse motivo, esse grupo vem sendo usado largamente na piscicultura para alimentação de peixes planctófagos, o que acrescenta um valor monetário ao grupo. Apesar disso, em ambientes naturais, os Anostraca não coexistem na presença de peixes planctófagos.
Os ambientes temporários no qual esses organismos são encontrados possuem características variadas; podem possuir ou não vegetação marginal associada no ambiente bem como macrófitas submersas ou não. A coluna d’água é baixa e geralmente translucida e a única movimentação associada a esses ambientes ocorre na lamina d’água. Com o passar das correntes de ar na água, o choque acaba criando micro turbilhamentos e movimenta parte da superfície da água.
Os Anostraca são encontrados em ambientes temporários e por isso incorporaram o mecanismo de resistência ao seu ciclo de vida. Após a reprodução sexuada esses indivíduos geram o chamado cisto, que são ovos de resistência, e os mesmos são então liberados pelas fêmeas na coluna d’água e sedimentados no fundo do ambiente. Com a posterior seca do ambiente seguido do período de chuvas, os novos indivíduos saem do período de dormência e eclodem dos cistos e recomeçam o ciclo de vida na coluna d`água.
Relacionado a distribuição do grupo, no Brasil esse gênero possui distribuição em partes da região de Minas Gerais, Goiás e recentemente, uma introdução acidental no interior de São Paulo. Entretanto, no ano de 2012 foi descoberta uma nova espécie pertencente a esse gênero na região do Pará, na Flona de Carajás. A Flona de Carajás é uma área de reserva, portanto protegida, entretanto a mineradora Vale possui o direito de exploração de minerais na região, ligando esses dois fatores, necessidade de exploração junto com a necessidade da preservação. Torna-se necessário, então, um estudo sobre o grupo devido ao baixo conhecimento biológico, ao aumento da área de distribuição do grupo e da atual recente incidência do grupo em um local de mineração e ao mesmo tempo proteção.