Olá! Meu nome é Lúcia Sanches e nas próximas semanas eu passarei por um importante rito da academia: vou defender minha tese de doutorado!
No entanto, antes deste ritual, que marcará definitivamente o fim da minha vida como pós-graduanda, passaram-se quatro longos anos. No meu caso quatro e um pouquinho, já que dei uma esticada antes da defesa…
Por isso quando fui convidada a relatar neste blog o trabalho, que defenderei no próximo dia 14, tive a ideia de escrever uma trilogia! Sim, uma trilogia, afinal tantas fizeram sucesso… espero que essa faça e me dê sorte para a minha defesa!
Mas não vou escrever uma trilogia sobre meu trabalho, acho que seria uma overdose sobre decomposição da matéria orgânica em ecossistemas aquáticos e afins, e eu não aguentaria e vocês não aguentariam!
Gostaria de falar um pouco sobre os fatos que antecederam a defesa, depois sobre o trabalho e a defesa em si e por fim sobre o que acontece depois da defesa (????). Alguns amigos têm me relatado sentimentos terríveis de que um abismo negro se abre embaixo dos seus pés e você se sente com um enorme vazio no peito, e com a sensação de “o que farei agora?”. Mas confesso que esta visão me pareceu muito pessimista, então vou esperar chegar o dia 15 para ver como me sinto, o que vou fazer daí em diante e venho aqui contar para vocês.
Assim começo minha trilogia neste blog, falando primeiro dos anos de doutorado…
Quando recebi a noticia de que havia passado para o doutorado, senti uma mistura de “não acredito” com “preciso contar para minha mãe” e “nossa agora tenho muito tempo para fazer ciência”. O “não acredito” passa quando você corre, lê seu nome na lista e garante que seu colega de trabalho não leu errado! Logo depois pode realmente ligar para sua mãe, que se encarrega de avisar a toda família muito mais rápido, que qualquer veículo de internet… por fim você volta pra casa, no final de uma semana estressante, que terminou muito bem, e descansa feliz de pernas pro ar, afinal têm quatro anos pela frente!
E realmente eu descansei…acho que uns dois ou três dias, não lembro bem, porque, afinal “quem trabalha no que gosta não tira férias”. Na verdade talvez eu não me lembre quanto tempo descansei, porque quando a gente emenda graduação, mestrado e doutorado, acaba não delimitando exatamente nossas férias. E entre uma semana na praia e outra na casa da mãe, já vai pensando em uma coisinha aqui e outra ali do trabalho.
Assim quando oficialmente comecei o doutorado, uns três meses depois da seleção, já haviam muitas novas questões e problemas a serem resolvidos com meu plano. Mexe, remexe no plano, vira ele do avesso! Vira outro plano! E assim, com um ano de doutorado, eu mudava meu plano: deixei para trás uma abordagem de campo por outra totalmente experimental.
Então, começa do zero! Faz um experimento piloto… Como está tudo indo bem, tem que comunicar ao Programa de Pós-Graduação a mudança; que tem que ser aprovada pelo comitê de acompanhamento. Aprovam… ou aprova… afinal um membro do comitê esqueceu o compromisso. Vai ter que apresentar de novo! Afinal foi apresentação para a “banca de acompanhamento de um homem só”.
No segundo ano de doutorado, com o plano novo embaixo do braço, fui para um congresso em Portugal. Aproveitei e dei uma incerta com meu francês em Paris. O objetivo era apresentar o plano para uma das referência do meu trabalho. Ele me recebeu, conversamos rapidamente sobre o trabalho e dois anos depois fui fazer doutorado sanduíche em um centro de pesquisa, numa cidadezinha próxima de Paris.
Antes disso, foi um longo ano e meio de realização de experimentos e análises, parecia que nunca ia acabar. E realmente acabou praticamente na véspera da minha ida para o doutorado sanduíche. A Copa do mundo rolando no Brasil e eu fazendo análise noite e dia no TOC em Macaé, e acabando com todas as balas de oxigênio da Merck ($$$).
Consegui terminar todos os experimentos e embarcar para uma nova aventura. Sem experimentos, sem aparelhos de análise, só eu e o computador! Nesta parte do doutorado ia dedicar meu tempo a uma metanálise. Foi uma experiência fascinante! Primeira vez morando sozinha, em outro país, trabalhando e vivendo em outra língua. – O inglês era a língua oficial do grupo de trabalho, pelas diferentes nacionalidades dos estudantes de pós-graduação e pesquisadores. Apesar de trabalhar em outra cidade, eu morava em Paris. E as duas horas por dia gastas entre a ida e a volta, valiam muito a pena. Sempre que possível fazia baldeação para usar a linha 6 do metrô (a que sempre aparece no filme “ O fabuloso destino de Amélie Poulain”), e passar pela Torre Eiffel. De dia ou de noite, adorava passar por aquela antena de rádio!
Entre o trabalho e alguns percalços da experiência de doutorado sanduíche, voltei para casa com um trabalho feito, que me valeu a qualificação, um capítulo da tese e um artigo indo para a submissão. Algumas grandes amizades, e ainda muita coisa para trabalhar da tese…
Assim voltei, senti saudades, procrastinei, tentei a técnica do pomodoro, voltei pra Tese, Carnaval, a vida passa, tem que terminar, não termina, reescreve, apresenta a qualificação, refaz análise, refaz texto, procrastino….
Cheguei aqui! A tese voltou da pré-banca com algumas coisas para melhorar e muitas reflexões. Mas está feita. Estou muito feliz. E tudo valeu muito a pena. Estou nervosa, ansiosa, claro, mas feliz.
De tudo que aconteceu, a única coisa que aconselharia a um aluno de doutorado a não fazer seria o sanduíche no final, voltei muito cansada e com certeza isso contribuiu para o atraso da minha defesa. Mas olhando para tudo que vivi, não me arrependo, pois sei que indo em outra época, as experiências e os encontros seriam totalmente diferentes. E embora o doutorado tenha um tempo determinado, cada um tem o seu tempo…
Mas quatro anos passam muito rápido, passaram… só hoje posso definir que aquela sensação de “nossa agora tenho muito tempo para fazer ciência”, estava equivocada.
Ainda não escrevi os agradecimentos, e tenho tanto a agradecer… Vou lá, lembrei que ainda tenho muito trabalho pela frente!
Até a próxima!