Aumento da temperatura, chuvas mais intensas, falta de água, aumento de doenças tropicais, enchentes e secas, não são novidades para quem já escutou ou leu algo sobre o tema Mudanças Climáticas. Possíveis soluções como a redução das emissões de gás carbônico, através do uso de energias alternativas e estratégias de sequestro de carbono, também são bem conhecidas quando se fala sobre o tema.
Autoridades de diversos países se reuniram nos últimos anos (desde 1995) nas COPs (Conferência das Partes) com o intuito de discutirem e criarem ‘soluções’ para o enfrentamento das Mudanças Climáticas. Mas será que essas discussões contribuem de fato para o
enfrentamento das Mudanças Climáticas?
Quando falamos do enfrentamento de uma questão tão complexa e controversa como as Mudanças Climáticas, onde diversos territórios, culturas e pessoas estão envolvidas, torna-se muito ingênuo pensar que a discussão em espaços como as COPs (Conferência das Partes), conferências e fóruns sobre o tema – onde determinadas discursos são privilegiados e legitimados, ao mesmo tempo em que saberes não reconhecidos, como os tradicionais, os não científicos, as visões dos países em desenvolvimento são esquecidas e subjugadas, em que se busca uma ‘solução conjunta’ para lidar com o problema das MC poderia ser de fato um enfrentamento dessa questão. Já que, para essa participação de diferentes atores sociais (nível local e global) na busca de possíveis ‘soluções’ seja equitativa, faz-se necessário que diferentes concepções e pontos de vistas sejam considerados, assim como o compartilhamento de saberes ocorra. Esse compartilhamento de significados em um ambiente de igualdade, onde se proporcione a criação conjunta de algo novo, só se torna possível através do diálogo (ANDRADE & SORRENTINO, 2016).
Então como os problemas socioambientais relacionados as MC podem ser enfrentados a partir de propostas, metas e soluções estabelecidas em espaços que legitimam discursos de determinados grupos sem considerar as visões, as percepções, os saberes de outros grupos que também estão inseridos nesse problema? Como compartilhar significados para a criação de algo novo, no que se refere ao enfrentamento das MC se os espaços para esse ‘ diálogo’ entre os diferentes ‘atores sociais globais’ impossibilita a participação simétrica de determinados grupos? Como criar espaços criativos de compartilhamento de significados em um tema tão complexo e controverso?
Nessa perspectiva, uma contribuição ao enfrentamento das questões socioambientais relacionadas às Mudanças Climáticas, seria da Educação Ambiental, pois esta auxilia na compreensão da complexa relação entre sociedade e natureza, situando as diversas dimensões que envolvem essa questão, assim como os diferentes atores sociais envolvidos a significam (Lima, 2013). Somando-se a isso, as práticas educativas em EA no contexto escolar explicitam o ambiente como bem público, onde todo cidadão tem o direito ao acesso e à participação na gestão do seu meio, capacitando aos envolvidos à reflexividade para tomada de decisões, em que se integram relações e ações de cunho social colaborativo, através da contextualização significativa, conjuntamente com saberes e práticas locais. Configurando deste modo, a escola como espaço de formação cidadã, já que nessa perspectiva as barreiras entre a comunidade e a escola são rompidas por meio das questões socioambientais locais, que por se fundamentar no diálogo possibilita o movimento constante da ressignificação de saberes e a criação conjunta de novos significados para o enfrentamento dos problemas socioambientais locais e globais (JACOBI et al., 2009).
Embora a escola atrelada a EA seja colocada como um espaço político de grande potencial para a contribuição de enfrentamento dos problemas socioambientais relacionados às Mudanças Climáticas, diversos desafios afloram no que se refere à possibilidade da criação de espaços de diálogo no contexto escolar e entre a escola e a comunidade, assim como a própria compartimentalização e fragmentação do conhecimento, concomitante a burocratização das práticas educativas e a hierarquização vertical das políticas educacionais. Nesse contexto, a escola só poderá atuar de fato como espaço de emancipação política, mediante a superação dos seus próprios desafios, onde o docente (através de uma formação que o capacite a isso) possa atuar potencializando suas práticas educativas “a favor do diálogo, da participação, do respeito às diferentes opiniões e necessidades, de práticas educativas abertas, em currículos cotidianos que dialoguem com as demandas sociais e culturais da realidade local e planetária” (JACOBI et. al, 2009).
A EA potencializa o espaço do diálogo, que por sua vez possibilita uma participação genuína dos diferentes atores sociais, a qual contribui com o enfrentamento das Mudanças Climáticas
Então como potencializar os espaços de diálogo pela EA frente aos obstáculos do contexto escolar (fragmentação do conhecimento, burocratização das práticas educativas, falta de autonomia dos professores…) que contribuam com o enfrentamento dos problemas socioambientais relacionados às Mudanças Climáticas? De que forma os debates e diferentes discursos científicos sobre as Mudanças Climáticas podem ser contextualizados com o saber docente?
Nesse sentido, faz-se necessário o fomento da criação desses espaços de diálogo em processos formativos de docentes que englobem a EA e a interface com as pesquisas científicas relacionados a questão ambiental no contexto das Mudanças Climáticas, assim como a investigação de como se estabelece esse diálogo. Dessa forma, a pesquisa em EA no objeto de estudo diálogo pode revelar elementos que impossibilitam o compartilhamento de significados e os obstáculos para a criação desses espaços na escola (também entre a escola e a comunidade), assim como os próprios desafios da prática docente e do tratamento didático desse tema na perspectiva da EA no âmbito escolar e das próprias barreiras institucionais educativas. A partir desses elementos se torna possível a compreensão das limitações e das potencialidades do diálogo no que se refere a questão das Mudanças Climáticas.
Sendo assim, ao compreender como o diálogo se estabelece (ou não) em processos formativos de docentes no tema em questão, é possível pensar de que forma os espaços de diálogo poderiam ser potencializados tanto no âmbito escolar, como em outras esferas participativas onde se busca ‘soluções’ para os problemas socioambientais relacionados às Mudanças Climáticas, o que se configura como uma das possíveis contribuições da pesquisa em EA para o enfrentamento das MC.
Referências Bibliográficas
ANDRADE, Daniel Fonseca de; SORRENTINO, Marcos. O lugar e o difícil papel do diálogo nas políticas públicas de educação ambiental. R. Educ. Públ., Cuiabá, v. 25, n. 58, p.139-160, jan. 2016.
LIMA, Gustavo Ferreira da Costa. EDUCAÇÃO AMBIENTAL E MUDANÇA CLIMÁTICA: convivendo em contextos de incerteza e complexidade. Ambiente & Educação, Rio Grande do Sul, v. 18, n. 1, p.91-112. 2013
JACOBI, Pedro Roberto; TRISTÃO, Martha; FRANCO, Maria Isabel GonÇalves Correa. A FUNÇÃO SOCIAL DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS PRÁTICAS COLABORATIVAS: PARTICIPAÇÃO E ENGAJAMENTO. Cadernos Cedes, Campinas, v. 29, n. 77, p.63-79, 2009.
JACOBI, P. R.; GUERRA, A. F. S.; SULAIMAN, S. N.; NEPOMUCENO, T. (2011). Mudanças climáticas globais: a resposta da educação. Revista Brasileira de Educação, 16(46), 135–148.
JACOBI, Pedro Roberto. Mudanças climáticas e ensino superior: a combinação entre pesquisa e educação. Educar em Revista, Curitiba, n. 3, p.57-72, 2014.
Selby, David. Mudança climática em sala de aula: curso da UNESCO para professores secundários (fundamental II e ensino médio) sobre educação em mudança climática e desenvolvimento sustentável (EMCDS) / David Selby e Fumiyo Kagawa. — Brasília : UNESCO, 2014.
Esse texto é uma adaptação de parte do levantamento bibliográfico da pesquisa de dissertação da autora.