No final do Pleistoceno e início do Holoceno, os homens eram nômades, ou seja, não tinham moradia fixa. Eles percorriam regiões em busca de presas para caça e assim se alimentarem para sobrevivência do grupo. Ao começarem a plantar, iniciando a agricultura, passaram a fixar moradia. Este é o início da história da agricultura.
O agrotóxico, chamado tecnicamente de insumo agrícola e popularmente de veneno, foi criado na Segunda Guerra Mundial. Os Estados Unidos, EUA, utilizavam aviões para jogar substâncias químicas presentes nos agrotóxicos nos vietnamitas nos campos de guerra, para os mesmos ficarem doentes e não conseguirem guerrear e se defender. Assim, após a Guerra, em meados de 1950 surgiu um processo que foi chamado de Revolução verde. Ocorreu então, a mecanização na agricultura, o uso de agrotóxicos e de sementes geneticamente modificadas (chamadas de transgênico) com intuito de aumentar a produção agrícola. No entanto, hoje sabemos que essa forma de produção contamina o lençol freático, solo, rios, etc. O próprio homem sofre com a utilização do veneno, como a própria palavra se refere, causando doenças respiratórias e principalmente o câncer. O câncer tornou-se uma das maiores causas de mortalidade nos tempos atuais que está ligada, entre outros fatores, com a forma como nos alimentamos. O Brasil é o país que mais utiliza agrotóxicos, em porcentagens acima da permitida pela ONU. Os mais afetados são os agricultores que aplicam e injetam o veneno, assim como moradores de localidades rurais que possuem contato direto pelo ar com essas substâncias. (Informações contidas nos documentários”O veneno está na mesa 1 e 2″) Atualmente, quando um pequeno agricultor pede empréstimo no banco para comprar um terreno, o mesmo é obrigado a utilizar sementes geneticamente modificadas e insumos agrícolas da Monsanto (empresa multinacional que monopoliza o agronegócio).
Além disso, a produção convencional é a partir de monoculturas, ou seja, muitos hectares com uma única espécie vegetal, como milho, mandioca, soja, etc. Desta maneira, numa monocultura de milho por exemplo, os insetos, chamados de praga, que se alimentam de milho encontram um “mar de alimento”. Ao ficarem superalimentados, estes se proliferam, por este motivo aplica-se o veneno para matar as “pragas”. No entanto, os insetos têm maneiras adaptativas de se manterem resistentes ao veneno e continuam se proliferando, assim é colocado cada vez mais agrotóxico. O solo por sua vez, fica seco, afinal, o veneno mata as plantas espontâneas como o mato que brota, por exemplo, e passa a não ter matéria orgânica presente.
Ao longo da história surgiram formas alternativas de produzir alimento como a Agricultura Natural, Agricultura orgânica e a Agroecologia, todas essas formas não aplicam o veneno. A Agricultura Natural, pouco conhecida, surgiu no início do século passado por Mokiti Okada, um japonês visionário para sua época. A grande diferença para a agricultura orgânica é não utilizar o esterco (as fezes do gado, cavalo e galinha). Visto que, para Mokiti Okada, o esterco pode causar doenças provenientes de parasitas como lombrigas naqueles que se alimentam a partir deste modo de produção. Já a agroecologia tem como grande intuito formar as chamadas agroflorestas, ou seja, plantar diferentes hortaliças e vegetais junto com espécies de árvores nativas da região do plantio. Com a ideia de restabelecer o plantio como era antigamente, com a produção agrícola aliada à florestas, gerando muitos benefícios como um solo rico em nutrientes devido a presença abundante de matéria orgânica no solo, como as folhas que caem. Essas formas alternativas, principalmente a agricultura orgânica vem ganhando destaque na sociedade devido a conscientização da importância da alimentação saudável. Porém, o governo não estimula esse tipo de agricultura, logo, são alimentos muito mais caros, muitas vezes com preços que chegam ao dobro dos produtos convencionais. Atualmente, os alimentos orgânicos tem ganhado maior destaque na mídia brasileira, o que antes não ocorria.
Muitos agricultores que utilizam veneno não alimentam-se da sua própria produção porque sabem o mal que faz. Além disso, há um grande receio em mudar a forma de plantar. Visto que, um solo, no qual utilizou-se veneno por muitos anos, é um solo desgastado e a mudança demora um tempo relativamente grande, pode durar alguns anos até tirar o celo de orgânico, a produção demanda mais trabalho braçal e a safra pode demorar a gerar produtos até a mudança ser concretizada. O resultado disso é um retorno financeiro demorado, que muitos pequenos agricultores não podem esperar. Apesar de gastar-se muito menos para produzir alimentos orgânicos, a transição é lenta.
Junto a isso, surge o conceito de sustentabilidade que parte de três princípios básicos: ser socialmente justo, economicamente viável e ambientalmente correto para que os meios de produção e formas de vida-sobrevivência garantam recursos naturais para gerações futuras. O meio ambiente é finito e alguma hora se esgotará, o homem vem explorando a natureza sem levar isto em conta, caminhando para sua própria extinção. A sustentabilidade surge para tentarmos mudar esse modo de vida a partir de agriculturas alternativas, permacultura e bioconstrução (construir casas com elementos presentes no ambiente como a palha, o esterco e barro: o super adobe, por exemplo). Com a conscientização ambiental que vem aumentando se compararmos com gerações passadas, muitas empresas tem se apropriado de palavras chaves como sustentável e eco ou ecológico para ganharem clientela a partir disso. Mas é tudo uma jogada de marketing, visto que, as mesmas não tem nada de sustentável e ecológico, muito pelo contrário.
Podemos pensar de forma otimista e acreditar que se caminharmos com ações pontuais, podemos modificar a forma de agir e pensar dos outros e de nós mesmos e juntos contribuirmos para um mundo melhor. Acredito, que a conscientização que vem crescendo e com as ações de muitos grupos, pesquisadores, agricultores, etc, podemos sim, vivermos em sociedade respeitando a natureza. Infelizmente se continuarmos com a exploração dos recursos naturais como fizemos até hoje, estaremos caminhando para extinção de nossa própria espécie. O planeta Terra não vai deixar de existir sem os humanos, ele não precisa de nós, mas nós, por sua vez, só sobrevivemos graças à Terra e à natureza. Devemos pensar no meio ambiente por inteiro.
“Sonho que se sonha só… É só um sonho que se sonha só….Sonho que se sonha junto é realidade…” Raul Seixas
Referências:
Fernandez, F., 2011. O poema Imperfeito. Editora UFPR, Paraná, Brasil.
Sama, M., 2008. Agricultura Natural, Arte e Sociedade. Editora Fundação Mokiti Okada, São Paulo, Brasil.
Sakakibara, C., 1994. Uma visão sobre Agricultura Natural messiânica. Editora Fundação Mokiti Okada, São Paulo.
Filme: O veneno está na mesa. Direção: Silvio Tendler, produção: Caliban Produções Cinematográficas, 2011.
Belo texto Marina. Por que nosso processo de conscientização sobre o assunto é tão lento? Como uma referencia sua coloca, o veneno está na mesa, mas não enxergamos.