Quando você entra em um lago, rio, cachoeira ou qualquer outro corpo aquático, dificilmente nota os animais que habitam esses ambientes, e quando os vê, geralmente é um sapo, girino ou peixe. Mas a diversidade faunística desses ecossistemas é incrivelmente rica, composta não só pelos vertebrados já mencionados, mas por outros seres, dentre eles, os macroinvertebrados bentônicos. Esse termo designa os animais invertebrados que vivem associados aos diferentes substratos em corpos de água doce, salobra ou salgada e, em geral, podem ser vistos a olho nú, mas como isto é relativo, tecnicamente dizendo, são os animais maiores do que 0,5 mm. Os principais representantes de macroinvertebrados bentônicos são moluscos, anelídeos, crustáceos e insetos aquáticos.
Algo muito interessante, que todo fã de pokémon que conhece minimamente um pouco de limnologia percebe, é que esses “monstrinhos” são baseados em animais reais, inclusive em macroinvertebrados bentônicos.
B: O pokémon Yanma e D: sua forma final (Yanmega) são baseados em libélulas(A), que em sua fase de ninfa são aquáticas e são capazes de projetar sua mandíbula inferior para capturar suas presas (C). Camarões e lagostins (E) foram usados para criarem o Corphish ( F). O pokémon Krabby(H) e baseado em caranguejos(G).
Após se dar conta de que alguns macroinvertebrados aquáticos foram usados pela turma da Nintendo para servir de inspiração para criarem novos pokémons, é possível perceber que a analogia entre eles vai um pouco além das semelhanças físicas. Assim como os pokemons precisam de ferramentas específicas para serem capturados – as famosas pokébolas – os macroinvertebrados também podem ser coletados mormente com a ajuda de aparatos e equipamentos especiais, como dragas, corers, surbers, peneiras, redes de deriva e outros tipos de redes adaptadas para busca de fundo ou junto as macrófitas aquáticas.
A imagem a (I) mostra um Suber, usado para capturar os invertebrados de uma área específica de amostragem no leito de um rio. Para isso, basta posicionar o Surber contra a correnteza , revirar o substrato com a mão que o aparato irá reter os organismos dentro da rede coletora. A imagem (J) mostra a rede de deriva e como ela é fixada no riacho. Adaptado de Silveira et al. 2004.
Peneiras(K) e puçás(L) também são usados na captura de macroinvertebrados.
Pokébola (M) comum utilizada para capturar pokémons.
Também, outra aproximação é que os pokémons não se distribuem aleatoriamente. Tanto no desenho animado quanto no jogo Pokémon GO, é possível notar que a Nintendo e a Game Freak preocupam-se em dispor os pokémons próximos aos hábitats de origem dos seus representantes na vida real. No caso dos macroinvetebrados aquáticos que inspiraram seus respectivos pokémons, eles podem ser encontrados próximos a praias, lagoas, beiras de rios e outros corpos d’água.
Um aspecto interessante da ecologia dos macroinvertebrados bentônicos de águas continentais é que muitos deles respondem de maneira previsível quando ocorre alguma mudança no ambiente onde vivem, e são por isso considerados ferramentas muito importantes no monitoramento ambiental, sendo utilizados como bioindicadores da qualidade do ecossistema. Isso é possível pelo fato desses organismos serem dotados de muitas características apropriadas no âmbito de monitoramentos de curta ou mesmo longas escalas espaciais e temporais, destacando-se: sua ampla distribuição, existindo em diferentes tipos de ambientes aquáticos; ciclo de vida relativamente longo, o que permite que aspectos fisiológicos dos indivíduos e/ou aspectos ecológicos de suas populações sejam avaliados antes e após serem submetidos a um impacto; baixa capacidade de deslocamento, o que os tornam consideravelmente representativos das condições do local onde são encontrados; facilidade de serem coletados; facilidade na identificação até níveis taxonômicos relativamente baixos, o que os tornam comparáveis; e a considerável variação entre os ‘táxons’ quanto a sensibilidade a diferentes tipos e graus de impacto. Neste sentido, existem táxons que são sensíveis a mudanças sutis no ambiente, e tendem a desaparecer ao primeiro sinal de distúrbio (Ex: insetos das ordens Ephemeroptera, Trichoptera e Plecoptera). Outros são tolerantes, existindo em ambientes levemente alterados (Ex: insetos das ordens Odonata, Megaloptera, Heteroptera e Coleoptera). E por fim, existem os que são resistentes à poluição, que sobrevivem e passam a predominar no local impactado (Ex: insetos da ordem Diptera; alguns moluscos gastrópodes; e anelídeos oligoquetas).
Assim como no jogo Pokémon GO, que é um aplicativo de realidade aumentada que utiliza a câmera e o GPS do smartphone para funcionar, existem diversos aplicativos que também utilizam esses dispositivos para catalogar espécies da fauna e flora, e registrar onde elas ocorrem. Esses aplicativos têm auxiliado diferentes grupos de pesquisadores a acompanhar e compreender a dinâmica de diversas espécies, baseadas nas frequências de avistamento, registros de certos hábitos e até das condições de saúde de certos organismos. Exemplos desses aplicativos são o iNaturalist, Pl@ntNet e o brasileiro SISS-Geo (desenvolvido pela FIOCRUZ). Com a evolução na precisão dos dispositivos de câmera e GPS em smartphones, aliado ao maior acesso da população a outros equipamentos que ajudam na identificação de pequenos organismos (lupas, microscópios simples, etc) cada vez mais comuns e em conta no mercado, tais aplicativos permite curiosos, novos cientistas e a sociedade como um todo contribuir com registros e informações que podem ser exploradas pelos demais cientistas.
Embora não seja suficiente, sabe-se que a simples presença de certos organismos bentônicos pode dizer muito sobre a qualidade do ambiente onde são encontrados. Não é de se estranhar que, em um futuro não tão distante, esses aplicativos e softwares também venham a servir como ferramentas para o monitoramento da qualidade ambiental utilizando grupos de organismos bioindicadores, como por exemplo, macroinvertebrados bentônicos. Isso seria interessante do ponto de vista financeiro e garantiria maior dinamismo no acompanhamento da qualidade de muitos corpos d’água e de outros ecossistemas. A luta pela preservação e recuperação dos ecossistemas em todo o globo é uma corrida contra o tempo e demanda maior conscientização, envolvimento e participação da sociedade… E a tecnologia pode ser nossa aliada!
Referencias:
Hamada, N.; Nessimian, J.L..; Querino, R.B. Insetos aquáticos na Amazônia brasileira : taxonomia, biologia e ecologia. Manaus: Editora do INPA. 724 p.: il. Color. 2014.
https://limnonews.wordpress.com/2013/03/20/macroinverte-o-que/
Hauer, F.R. & Lamberti, G.A., 1996. Stream Ecology. Academic Press, San Diego, 674p.
Silveira, M. P.; Ferraz, J.; Boeira, R. C. Metodologia para obtenção e preparo de amostras de macroinvertebrados bentônicos em riachos. Comunicado técnico 19, Embrapa meio ambiente. ISSN 1516-8638. Jaguariúna, SP, Outubro, 2004.
Referências de Imagem
A: https://limnonews.wordpress.com/2013/03/20/macroinverte-o-que/
B: http://pokemon.wikia.com/wiki/Yanma
C: http://hypescience.com/10-fatos-brutais-sobre-libelulas/
D: http://villains.wikia.com/wiki/file:469.png
E:https://projetofauna.wordpress.com/2013/11/04/ficha-do-bicho-pitu-macrobrachium-carcinus/
F:http://bulbapedia.bulbagarden.net/wiki/Corphish_%28Pok%C3%A9mon%29
G:http://periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/gaia/article/view/18020
H:http://guidesarchive.ign.com/guides/9846/krabby.html
M:https://jovemnerd.com.br/nerdnews/quanto-custa-uma-pokebola-em-pokemon-go/
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