O tamanho dos organismos pode dizer muita coisa sobre sua ecologia. Olhemos, por exemplo os organismos zooplanctônicos: pelo seu tamanho, você não pensaria num cladócero comendo um peixe, por exemplo. Mas pode facilmente imaginar o contrário. Claro que, em animais de tamanhos muito diferentes, como um peixe e um cladócero, fica claro o papel do tamanho corporal. Porém, a verdade é que mesmo diferenças sutis no tamanho podem ter grandes consequências ecológicas.
Vejamos, por exemplo, os cladóceros. Cladóceros são microcrustáceos, bastante comuns no plâncton de águas continentais. Eles são animais microscópicos, que quando adultos normalmente apresentam de 0,2mm a 1mm de comprimento (embora haja algumas exceções). Algumas espécies tipicamente são maiores, outras são menores. Mas mesmo dentro de uma mesma espécie existe uma variação no tamanho, em consequência de diversos fatores. Veremos alguns exemplos nos próximos parágrafos.
Um dos padrões mais conhecidos na ecologia dos organismos zooplanctônicos é a relação entre desenvolvimento, comprimento e temperatura. Explicando de uma forma simples, em ambientes mais quentes, cladóceros tendem a se desenvolverem mais rápido (alcançando a fase adulta em menos tempo) mas alcançando menor tamanho final. Em ambientes mais frios, os cladóceros se desenvolvem mais devagar, e alcançam maior tamanho. Como consequência, o zooplâncton em lagos temperados tende a ser maior que em lagos tropicais.
Outro fator importante é a quantidade e a qualidade do recurso alimentar. Cladóceros que se desenvolvem em ambientes com recurso mais escasso tendem a ser menores. Em relação à qualidade do alimento, a relação é mais complexa; afinal há várias formas de se definir qualidade alimentar. Mas mesmo assim a relação geral é parecida com a quantidade: cladóceros criados com alimento com maior qualidade nutricional tendem a serem maiores.
A interação com outros organismos também é importante. Por exemplo, a predação. Peixes planctívoros, que se orientam pela visão, tendem a consumir organismos maiores, por serem mais fáceis de localizar. Ao se alimentar dos indivíduos maiores, a predação por peixes tende a diminuir o tamanho dos cladóceros. Já a predação tátil por outros invertebrados tende a aumentar o tamanho corporal, visto que eles predam preferencialmente organismos menores.
Além da temperatura, alimento e predação, muitos outros fatores influenciam o tamanho corporal das populações e comunidades de cladóceros: estresse ambiental, química da água, competição, entre outros. Por isso, em comunidades reais, o tamanho dos organismos é o resultado de interações complexas. Por responderem a tantos fatores, o tamanho médio dos cladóceros, em conjunto com outras informações, pode fornecer dados valiosos sobre os ambientes aquáticos em que se encontram.
E o mais importante: o tamanho médio destes organismos tem uma série de consequências sobre os ambientes aquáticos em que eles ocorrem. Por exemplo, indivíduos maiores tendem a respirar mais, e também a excretar mais, além de consumir mais recursos. Portanto, o tamanho deles tem relação com o ciclo de nutrientes (carbono, nitrogênio, fósforo) e com o seu papel nas teias alimentares!
Portanto, da próxima vez que alguém achar que o plâncton é pequeno demais, lembre-se que o tamanho dos organismos diz muito mais sobre eles do que as pessoas imaginam!
Ei Elder, belo post, como sempre. Você está se especializando em falar fácil coisas difíceis. Parabéns, isto é salutar para a existência, a prática e a demonstração da importância da ciência.