Você provavelmente já alugou um quarto no Airbnb para passar um fim de semana em uma cidade diferente, não é? Possivelmente utilizou o aplicativo BlaBlaCar para viajar em um carro com outras pessoas, dividir as despesas e economizar. E para aquele mochilão tão esperado na Europa, você já pensou em utilizar o Couchsurfing? Esta é uma rede social voltada a unir turistas e pessoas interessadas em recebê-los, sem fins lucrativos.
Todas estas iniciativas fazem parte da economia compartilhada, que vem se difundindo no Brasil e no mundo. Esta forma de consumo colaborativo é baseada na divisão de bens de consumo e serviços, visando economia de dinheiro, espaço e tempo (Botsman & Rogers, 2010; Tussyadiah, 2015). Apesar de o conceito de economia compartilhada ser antigo, datado desde a política do escambo, o termo voltou a ser utilizado em função do desenvolvimento de tecnologias da informação, como as redes sociais, somado a preocupações ambientais (Botsman & Rogers, 2010). É uma maneira de usar a tecnologia para fazer negócios, para a inclusão social e preservação ambiental.
O consumo colaborativo é estruturado em 3 tipos de sistemas: 1) Mercados de redistribuição, que permitem a troca de um produto de um local no qual este não é necessário, onde ele seja; 2) estilos de vida cooperativos, no qual recursos como dinheiro, habilidades e tempo são compartilhados; e 3) sistemas de serviços e produtos, nos quais o consumidor paga pelo benefício do produto e não pelo produto em si. Estas práticas prolongam o ciclo de vida dos produtos, diminuem a produção de resíduos e permitem que as pessoas compartilhem recursos, sem perder o estilo de vida ou a liberdade pessoal (Botsman, 2010).
A partir da prática do consumo colaborativo, as pessoas passam a se comunicar mais e confiar umas nas outras. Além disso, esta prática pode possibilitar o acesso a certos bens, os quais algumas pessoas foram anteriormente excluídas (Binninger et al.,2015). Além disso, o conceito tem tudo a ver com a sustentabilidade, pois fornece vantagens ecológicas como diminuição de resíduos e inspiração de melhor desenvolvimento de produtos (Botsman & Rogers, 2010). Isto porque tradicionalmente, os produtos são vendidos, utilizados por um pequeno prazo e depois descartados.
Um grande benefício do consumo colaborativo é a redução do consumo. Afinal, as pressões do consumo excessivo ao meio ambiente são uma preocupação crescente (Tussyadiah, 2015). A partilha de bens e serviços tende a resultar em menos impacto ambiental em comparação aos outros modelos econômicos. Isto porque o consumo colaborativo pode resultar na redução do desperdício, do uso excessivo de energia e das emissões de gases de efeito estufa (Prothero et al., 2011; Quadra et al., 2017).
Nesse sentido, não podemos deixar de lado a necessidade de integrar o conceito de consumo colaborativo em nossas rotinas diárias. Pois este conceito tem um enorme potencial para mudar o sistema de consumo atual e reduzir a produção de resíduos, podendo, consequentemente, diminuir as pressões humanas sobre o meio ambiente.
REFERENCIAS
Binninger AS, Ourahmoune N, Robert I (2015) Collaborative Consumption And Sustainability: A Discursive Analysis Of Consumer Representations And Collaborative Website Narratives. Journal of Applied Business Research, 31:969-986.
Botsman R & Rogers R (2010) What’s mine is yours: how collaborative consumption is changing the way we live. London: Collins.
Botsman R (2010) The Case of Collaborative Consumption. TED Ideas worth spreading. Disponível em: https://www.ted.com/talks/rachel_botsman_the_case_for_collaborative_consumption.
Prothero A, Dobscha S, Freund J, Kilbourne WE, Luchs MG (2011) Sustainable Consumption: Opportunities for consumer research and public policy. Journal of Public Policy & Marketing, 30:31-38. DOI 10.1509/jppm.30.1.31.
Quadra GR, Josué IIP, Roland F & Bozelli R (2017). We Cannot Leave Aside the Collaborative Consumption. Journal of Waste Resources, 7(284), 2.
Tussyadiah I (2015) An exploratory on drivers and deterrents of collaborative consumption in travel. In Tussyadiah, I. & Inversini, A. (Eds.), Information & Communication Technologies in Tourism 2015. Switzerland: Springer International Publishing.
Muito bom o texto. Precisamos mesmo refletir sobre esta questão, ainda mais em uma sociedade na qual o consumo também é poder e Status