A palavra empreendedorismo está muito relacionada ao mundo dos negócios. Nas ciências sociais e ambientais, o termo ainda é pouco disseminado, e em muitos casos, é entendido quase que exclusivamente como o ato de abrir um negócio.
Contudo, empreendedorismo vai muito além de abrir um negócio. Consiste na capacidade de realização e de transformação, de colocar ideias em prática e de gerar resultados. A medida em que alunos, pesquisadores e a própria universidade se tornam mais empreendedores, seus esforços de produção e transmissão de conhecimento tendem a gerar maior impacto e consequentemente melhor qualidade de vida para a sociedade.
As universidades brasileiras têm gerado quantidade espetacular de conhecimentos que podem contribuir para solução dos diversos problemas atuais, mas isso não é suficiente! A questão ambiental, por exemplo, enfrenta desafios sem precedentes na sociedade brasileira. Problemas estes que só poderão ser superados por soluções inovadoras que combinem conhecimento científico e empreendedorismo.
Para explicar melhor, vamos a um exemplo prático. O problema do lixo nos ecossistemas aquáticos, tanto marinhos como os límnicos, tem se agravado a cada ano, com pressão sobre os componentes abióticos e a biodiversidade, causando sérias e complexas consequências sobre as pessoas e economias locais. Dezenas de milhares de estudos acadêmicos sobre o assunto podem ser encontrados em rápida pesquisa nas bases científicas. Mas qual foi a contribuição prática destes artigos para a solução do problema?
Foto: Onda de lixo em Bali. Um problema grave para uma sociedade que vive do turismo e da pesca. Fonte: Google.
Fato é que, a solução para problemas complexos, como são os problemas relacionados a gestão, manejo racional e preservação dos ecossistemas, sejam aquáticos ou terrestres, perpassam pela necessidade de colaboração entre os mundos acadêmico e o não acadêmico, formado principalmente por empresas e os diferentes níveis de governos: municipal, estadual e federal. Para gerar resultado prático, ou seja, a inovação, as pesquisas acadêmicas precisam avançar em dois aspectos principais: no empreendedorismo e na disponibilidade de recursos para sua implementação. Primeiro deve haver quem realize (que pode ser o próprio pesquisador ou a equipe de pesquisa). Segundo, deve haver quem pague pelo projeto e, para isso, um modelo de negócio sustentável deve ser criado.
Como afirmou o ex-presidente da 3M, uma das empresas mais inovadoras do mundo, Geoff Nicholson, “Pesquisa é transformar dinheiro em conhecimento; inovação é transformar conhecimento em dinheiro”. Para gerar soluções realmente eficazes para os problemas mais amplos da sociedade, é necessário que se feche esse ciclo. As universidades brasileiras precisam criar capacidade de gerar inovações e não apenas conhecimento. Estar aberta ao mercado e atuar de forma empreendedora não pode ser visto como promiscuidade ou um desvio de valor. É, de fato, uma maneira de contribuir para o desenvolvimento da sociedade em escala local, regional e global.
É claro que nem todo pesquisador precisa ser empreendedor. No entanto, para ser completa a missão da universidade de contribuir para a construção de uma sociedade com mais equidade econômica e social e com mais preservação ambiental na sua região de influência, a visão empreendedora deve estar contemplada. Em especial na área ambiental, é preciso que haja maior engajamento da universidade e dos seus pesquisadores com a aplicação prática dos conhecimentos, transformando-os em inovação e valor para sociedade. Desta forma, o meio ambiente agradece.
Neste sentido, se faz urgente e necessário que as universidades brasileiras rompam com as ultrapassadas “grades curriculares” que engessam saberes, e incorporem nos currículos acadêmicos disciplinas, discussões, seminários e outras atividades que despertem nos futuros profissionais a visão do empreendedorismo como uma das alavancas para promoção do desenvolvimento em bases sustentáveis, que é condição sine qua non para a construção de uma sociedade mais humana e equalitária.
Carlos Eduardo Lopes da Silva
Doutorando em Ciências Ambientais
NUPEM / UFRJ – Núcleo em Ecologia e Desenvolvimento Ambiental de Macaé
Contato: c.eduardo@macae.ufrj.br