Desde que comecei a me interessar por biologia, uma das coisas que mais me fascina é a biodiversidade, ou a diversidade de formas de vida em nosso planeta. São milhões de espécies (a maioria desconhecida) de organismos diversos, desde os mais simples vírus, que nem se reproduzem sozinhos, até os organismos multicelulares complexos, como uma baleia azul ou uma sequóia gigante. Nesse meio temos uma diversidade enorme de bactérias e arquéias, temos protozoários com células bastante especializadas, temos parasitas, e uma infinidade de genes, de reações bioquímica, de formas de vida e de reprodução.
Portanto, estudar a diversidade é um desafio enorme. Séculos antes de Cristo, Aristóteles já tinha criado um sistema de classificação para os seres vivos. Porém, o sistema moderno de classificação das espécies começa a partir de Lineu, um naturalista sueco que viveu no século XVIII. Ele nomeava as espécies com duas palavras em latim. O sistema de Lineu era hierárquico: as espécies eram agrupadas em gêneros de acordo com suas características similares. Os gêneros, por sua vez, eram agrupados em famílias, e assim havia outros grupos até chegar a reino. Nossa concepção de espécie mudou bastante, mas o sistema de Lineu continua essencialmente o mesmo até os dias atuais.
Apesar da taxonomia (classificação das espécies) ter começado lá atrás, os taxonomistas trabalham até hoje na difícil tarefa de descrever todas as espécies do planeta. E ainda não estão nem perto de terminar esta tarefa. Meu maior interesse, contudo, é como estas espécies se relacionam com o meio ambiente, umas com as outras e onde estão presentes. Isto é ecologia.
Eu não quero entrar em detalhes aqui sobre como medir a biodiversidade, mas saibam que há muitos métodos diferentes. O interessante é que estes métodos dependem da escala utilizada, seja no tempo ou no espaço. No tempo porque as espécies presentem em determinado local mudam com o tempo, mesmo em ambientes naturais sem impactos. Afinal, novas espécies podem migrar e colonizar um novo ambiente. Ao mesmo tempo, espécies podem desaparecer de um ambiente (ou seja, extinção local). Existe um conceito ecológico chamado turnover, ou substituição de espécies, que descreve essas mudanças nas comunidades com o tempo.
No espaço, a tendência é a biodiversidade aumentar com a área observada. Para lidar com isso, existem os conceitos de diversidade regional, diversidade local e diversidade beta. Vou dar um exemplo: imagine duas grandes áreas, A e B. Cada uma dessas áreas possui 10 lagos. Em ambas, há 50 espécies de peixes no total. Porém, na área A, em cada um dos lagos há todas as 50 espécies. Na área B, cada lago possui apenas 5 espécies de peixes, mas as espécies não se repetem em diferentes lagos. Neste exemplo, as duas áreas possuem a mesma diversidade regional. Os lagos da área A possuem maior diversidade local que os da área B, mas na área B a diversidade beta é maior.
Estes conceitos possuem uma aplicação prática para conservação. Alguém poderia argumentar que é mais importante preservar a área A que a B, pois seus lagos da A possuem mais espécies. Porém, na área A, basta conservar um lago para manter toda a diversidade regional. Na área B seria necessário preservar todos os lagos para manter a diversidade regional.
Descrever as espécies, como fazem os taxonomistas, é uma tarefa árdua. Mas descrever e entender os padrões espaciais e temporais também. Uma das grandes dificuldades é que estudar a biodiversidade é uma corrida contra o tempo: enfrentamos grandes problemas ambientais que estão reduzindo-a em ritmo acelerado. Desmatamento, mudanças climáticas, poluição, entre outros, ameaçam as espécies e a nós mesmos. Resta-nos lutar pela preservação da natureza.
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