English version at the end
8 de Março foi o dia internacional da luta das mulheres. Este é um dia de homenagem às verdadeiras guerras que são batalhadas fortemente todos os dias. Nossas vidas por si só já são um ato de resistência e a luta pela permanência em todos os espaços da sociedade, ainda é uma realidade. Para fomentar essa discussão trago então duas notícias, uma boa e outra ruim:
A boa é que a presença feminina na academia tem atingido as maiores taxas da história!
A ruim é que, também em maiores proporções, as mulheres tem abandonado suas carreiras científicas mais do que os homens …
Este fenômeno vem sendo descrito como “leaky pipeline”, que em tradução livre seria um cano com vazamento. Pensem em um cano como se fosse o histórico acadêmico, onde as pessoas entram iniciando suas trajetórias profissionais e saem prontos para o mercado de trabalho. O cano com vazamento é uma metáfora porque nós mulheres somos a maioria que entra no “cano”, como estudantes de iniciação científica e mestrado. Mas somos a minoria que sai deste “cano”, que seria o estabelecimento em cargos de destaque, como professores e profissionais contratados. Assim, a única explicação para essa conta que não bate é que esse “cano” está furado (Figura 1). Em 2012 na Espanha, 56% dos alunos de mestrado eram mulheres mas apenas 20% ocupavam cargos de destaque. Este cenário desencorajador se repete em outros, muitos, países.
Figura 1. Leaky pipeline.
Os diversos furos que nos fazem vazar (literalmente) da carreira acadêmica são complexos e reforçam uns aos outros. O objetivo dessa publicação não é apontar os motivos de nossa saída, mas incentivar o que pode ser feito para estimular nossa permanência. Para exemplificar, utilizarei de um dos casos abordados no artigo “Women in limnology in the Iberian Peninsula: biases, barriers and recommendations” (tradução: Mulheres na Limnologia da Península Ibérica: viés, barreiras e recomendações).
O gráfico abaixo mostra o número de palestrantes convidados para os Congressos da Associação Iberoamericana de Limnologia (AIL) entre 2006-2014. O primeiro convite à uma mulher só foi realizado em 2010. O número vem crescendo ao longo do tempo mas em 2014, último dado amostrado, ainda representava apenas 1/3 dos palestrantes (Figura 2).
Figura 2. Palestrantes convidados para os Congressos da Associação Iberoamericana de Limnologia (AIL) entre 2006-2014.
Então em 2014, durante o XVII Congresso da AIL, foi realizada uma mesa redonda para o compartilhamento de experiências e sugestões de soluções para esse viés de gênero. Os participantes destacaram como ponto urgente para a mudança, a necessidade de transformar conceitos da memória coletiva em que a mulher tem o papel de “cuidadora” na família e na sociedade.
Algumas sugestões práticas para buscar melhorar a equidade de gênero na ciência foram:
- aumentar a presença de mulheres com papéis ativos no quadro administrativo das associações
- desenvolver redes de orientação para apoiar o desenvolvimento das carreiras das mulheres
- aumentar o número de palestras oferecidas por mulheres nas conferências para alcançar a paridade
- promover horários flexíveis e mais instalações de assistência à infância para facilitar a conciliação de trabalho e vida familiar
- criar consciência social, promovendo discussões sobre esse tema na academia e sociedade
À partir disso a AIL fez um comunicado oficial e se comprometeu em:
- garantir a igualdade de representações femininas e masculinas nas comissões, bolsas e palestras
- aumentar o apoio aos pais que participam dos eventos, organizando atividades de assistência e/ou paralelas para as crianças
- fornecer uma revisão duplo-cega dos manuscritos submetidos para publicação na Limnetica (revista da AIL)
- buscar o equilíbrio de gênero dentro da associação
Esta mobilização e os produtos gerados dela, mostram como é necessário discutir sobre as possíveis soluções para concertarmos os vazamentos desse cano. A ciência, posso falar particularmente no Brasil, ainda é um palco de privilégios (não só de gênero) que precisam ser apontados, reconhecidos e combatidos. Só assim, um cenário em que a trajetória acadêmica ofereça facilidades/dificuldades igualmente para todos será alcançado. Todos que por ali decidirem passar.
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March 8th is the international day of women’s fight. It is a day to honor the battles fight strongly every single day. Our lives by themselves are already a resistance act and fight for women permanence in all society layers is still a reality. To encourage this discussion, we introduce two news, one is good and another is bad:
The good new is that currently the female presence in academia has achieved the highest rate in history!
The bad new is that women leave scientific activities at a greater rate than men …
This phenomena is called leaky pipeline, being the pipeline compared with the academic trajectory. The leaky pipeline is a metaphor because women are the majority which entry into the pipeline, as BSc and MSc. But is the minority which get out of it, as held positions on highest professional levels. Then, the only plausible explanation for this account that does not match is that the pipeline is leaking (Figure 1). For example, in Spain women are 56% of Masters, but only 20% occupied the highest professional levels. This discouraging scenario is repeated in many other countries.
There are many holes in the academic trajectory pipe, the reasons why women abandon the academic career are multiple, complex and reinforce each other. The goal of this publication is not point the reasons why women drop out academy but estimate our permanence. To exemplify, I will use some data from the paper “Women in limnology in the Iberian Peninsula: biases, barriers and recommendations”.
The following graph show the number of invited plenary speakers to the Iberian Limnological Association (AIL) conferences from 2006 to 2014. The first invitation to a women was just made by 2010. The number of invitations is increasing along time but in 2014, last sampled year, women still represented only 1/3 of the invited people (Figure 2).
Then, in 2014 during the XVII Congress of the Iberian Association of Limnology a round table was held to share experiences and suggest solutions for gender bias. Participants highlighted the urgent need to transform concepts from the collective memory, such as women being the “caretaker” in family and society, when searching for a change.
Some practical suggestions to improve gender equality in the sciences included:
- increasing the presence of women with active roles in management boards
- developing mentoring networks to support career development
- increasing the number of plenary talks provided by women at conferences to achieve parity
- reconciling work and family life by promoting flexible schedules and more child-care facilities
- creating social awareness, moving the discussion from academia to society
From that, AIL has committed to:
- ensure equal representation of male and female researchers in commissions, grants and overall plenary speakers (which has been occurring in recent meetings)
- increase support for parents who attend national conferences/events by organizing child-care and/or parallel activities for children
- provide a double-blind review of manuscripts for publication in Limnetica (Journal published by the AIL)
- follow up on gender balance within the association
This mobilization and the products generated from it, show how necessary is discuss about practical solutions to arrange leaky pipelines. Science, I can say specially of Brazil, is still a stage of privileges (not gender only) which must be pointed, recognised and fought. Just so, a scenario which the academy trajectory would offer equally facilities and difficulties to all will be in fact achieved. All people who decide pass by.