Minha experiência com o escotismo começou em 2003 como um jovem amante de atividades ao ar livre, fascinado pela ideia de colocar uma mochila nas costas e sair para acampar rodeado pela natureza. Ao longo desses 15 anos, este jovem não apenas graduou-se como Bacharel e Mestre em Ciências Biológicas, mas também assumiu o compromisso de ser chefe de uma tropa de escoteiros.
Se você não conhece, o Escotismo é um movimento de educação não formal para jovens fundado na Inglaterra em 1907, mas que rapidamente se espalhou pelo mundo. Desde sua fundação o escotismo já foi levado para mais de 200 países e territórios, chegando ao Brasil em 1910. O escotismo mundial tem como atual visão ser o mais importante movimento educacional juvenil do mundo, no qual os jovens inspirem mudanças positivas em suas comunidades, e a sua missão é contribuir para a educação dos jovens, por meio de um sistema de valores baseados na Promessa e na Lei Escoteira. Centrado na ideia de criar um mundo melhor, o escotismo vem evoluindo em seu programa educativo ao longo de seus 110 anos e a parte ambiental tem grande importância.
O próprio código de conduta dos escoteiros, a Lei Escoteira, prevê em seu sexto artigo que “O escoteiro é bom para os animais e para as plantas”, nos dando uma ideia de que o pensamento conservacionista já fazia parte da filosofia escoteira desde sua fundação. Conhecidos por seus acampamentos, é de se esperar que os escoteiros tenham algum treinamento para minimizar os impactos ambientais de suas atividades, incluindo atenção sobre o solo e recursos hídricos ao entorno. Normalmente orientados a deixar o local do acampamento melhor do que foi encontrado, é comum ver os jovens escoteiros preocupados com os resíduos gerados e empenhados a recolhe-los ao final da atividade, dando a estes um destino adequado.
Figura 1- Cozinha de um acampamento escoteiro. Fonte: Grupo Eescoteiro Tupi-Guarani – 236/RS.
Com um sistema recompensatório de distintivos e insígnias, é interessante ver que os escoteiros possuem um módulo inteiro voltado ao meio ambiente, trabalhando em cinco temas: ar e água, habitats e espécies, substâncias perigosas, melhores práticas ambientais, e riscos ambientais e desastres naturais. Cada tema é abordado em uma das reuniões periódicas na cidade ou em campo, através de jogos, dinâmicas e outras atividades sugeridas nos guias da Insígnia Mundial de Meio Ambiente (IMMA) ou elaboradas pelos chefes escoteiros. Em fases futuras os escoteiros são ainda incentivados a elaborar e executar um projeto ambiental no qual ponham em prática conhecimentos adquiridos em relação a um ou mais dos cinco temas citados, preferencialmente envolvendo os familiares e a comunidade ao entorno de suas sedes.
Além das atividades educacionais relacionadas a IMMA os Escoteiros do Brasil promovem anualmente um Mutirão Nacional de Ação Ecológica (MUTECO). Guiado por um tema que muda anualmente e que no ano passado trabalhou com base no “Escotismo e Desenvolvimento Sustentável”, o MUTECO propõe atividades para serem aplicadas em todo território nacional, visando não apenas a reflexão teórica sobre temáticas ambientais, mas também ações que busquem transformar as comunidades dos jovens escoteiros e seu entorno, incluindo, mas não se limitando a excursões para limpeza de trilhas e atividades de reflorestamento com espécies nativas.
Figura 2- Montagem de uma horta orgânica durante o MUTECO de 2017. Fonte: Grupo Escoteiro Áquila – 5/SC.
No ano passado o impacto do consumo de itens plásticos sobre o meio ambiente foi o grande destaque. Os Escoteiros do Brasil criaram uma insígnia especial para este ano para condecorar os jovens que, após avaliarem sua pegada ecológica do consumo de plástico, comprometeram-se a reduzir seu consumo pessoal e incentivaram outros a fazer o mesmo.
Inspirado por essa ideia, o chefe escoteiro Rodrigo Padula, de Niterói, idealizou uma ideia legislativa, que tem como principal objetivo a redução do consumo e da produção de plásticos descartáveis, através da proibição da distribuição de canudos e sacolas plásticas, e da produção de cosméticos que usem em sua composição microplásticos. Essa ideia legislativa recebeu apoios de mais de 24.000 pessoas e será transformada em projeto de lei pela Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa.
Para garantir a qualidade das atividades ambientais os Escoteiros do Brasil contam com o apoio dos voluntários em uma Rede Ambiental Escoteira que é um grupo de discussões democrático, formado por pessoas que gostam do tema meio ambiente e profissionais de várias áreas ligadas as ciências ambientais. Esse grupo de voluntários atua no desenvolvimento de fichas técnicas para as atividades ambientais e mutirões, além de auxiliar na produção de literaturas escoteiras de educação ambiental, tornando o escotismo cada vez mais sustentável.
Figure 3- Distintivos anuais do MUTECO de 2004 até 2017. Fonte: Rede Ambiental Escoteira.
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Non-Formal Education and Environmental Education: A Scout perspective.
My experience with Scouting began in 2003 as a young outdoor enthusiast, fascinated by the idea of putting a backpack on my back and going camping surrounded by nature. During these 15 years, this young man not only graduated as Bachelor and as Master in Biological Sciences, but also assumed the commitment to be a leader for a troop of Scouts.
If you do not know Scouting, I can tell you it is an non-formal educational movement for young people founded in England in 1907, which quickly spread throughout the world. Since its foundation, Scouting has already been taken to more than 200 countries and territories, arriving in Brazil in 1910. The current vision of World Scouting is to be the most important youth educational movement in the world, in which young people inspire positive changes in their communities, and its mission is to contribute to the education of young people, through a system of values based on the Promise and the Scout Law. Focused on the idea of creating a better world, Scouting has been evolving in its educational program throughout its 110 years and the environmental part has a great importance.
The Scout’s code of conduct, the Scout Law, states that “A scout is a friend to animals.” giving us an idea that conservationist thinking was already part of Scout philosophy since its creation. Known for their camp activities, it is expected that Scouts have some training to minimize the environmental impacts of their activities, including attention to the soil and water resources on the surrounding of camping areas. Usually advised to leave the campsite better than it was found, it is common to see the young scouts concerned about the waste generated by then and committed to collect it at the end of every activity, giving the waste a suitable destination.
See “Figura 1”
Figure 1- Kitchen of a scout camp. Source: Scout Group Tupi-Guarani – 236 / RS.
With a rewarding system of badges, it is interesting to see that Scouts have a whole module focused on the environment, working on five themes: air and water, habitats and species, dangerous substances, best environmental practices, and environmental risks and natural disasters . Each theme is addressed in one of the regular meetings in the city or on the field, through games, dynamics and other activities suggested in the World Scout Environment Badge (WSEB) guides or elaborated by the Scout Leaders. In future phases Scouts are also encouraged to design and execute an environmental project in which they put into practice knowledge acquired in relation to one or more of the five themes mentioned above, preferably involving family members and the community around their headquarters.
In addition to the educational activities related to WSEB, the Scouts of Brazil promote a National Activity for Ecological Action (MUTECO). Guided by a theme that changes annually (last year’s theme was “Scouting and Sustainable Development”), MUTECO proposes activities to be applied throughout the Brazilian national territory aiming not only in promoting theoretical reflections on environmental themes, but also in actions to transform the communities and their surroundings. These actions include cleaning trails during excursions and reforestation of native species.
See “Figura 2”
Figure 2- Assembly of an organic vegetable garden during the MUTECO of 2017. Source: Scout Group Áquila – 5 / SC.
Last year, the impact of the consumption of plastic items on the environment was the main highlight. The Scouts of Brasil created a special badge for this year to honor the young people who, after assessing their ecological footprint of plastic consumption, have committed to reduce their personal consumption and encouraged others to do the same.
Inspired by this idea, the Scout Leader Rodrigo Padula, from Niterói, devised a legislative idea, which main objective is to reduce the consumption and production of disposable plastics, by prohibiting the distribution of plastic straws and bags, and the production of cosmetics that use microplastics in their composition. This legislative idea received support of more than 24,000 people and will be transformed into a law by the Commission on Human Rights and Participatory Legislation.
To ensure the quality of environmental related activities, the Scouts of Brazil have the support of volunteers in an Environmental Scout Network, which is a democratic discussion group composed of people who like the environmental theme and professionals from various areas related to the environmental sciences. This group of volunteers acts in the development of technical charts for the environmental related activities and MUTECO, in addition to helping in the production of scout literature on environmental education, making Scouting increasingly sustainable over the years.
See “Figura 3”
Figure 3- MUTECO annual badges from 2004 to 2017. Source: Rede Ambiental Escoteira.