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Pra que serve a sua pesquisa?

Anna Carolina Fornero Aguiar por Anna Carolina Fornero Aguiar
06/09/2024
in Ecologia
1
Limnonews – Limnologia UFRJ
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É uma das perguntas que quase todo pesquisador já respondeu. Quando a pergunta se apresenta sob forma de justificativa de um projeto, é relativamente simples responder. Porém, se feita por um leigo no assunto (geralmente um amigo ou parente) e direcionada a um cientista dedicado à pesquisa básica, então o aparente trivial questionamento pode ser o começo de um momento frustrante. Várias explicações para perceber no semblante do amigo/parente um sinal sutil de arrependimento por ter perguntado – após compreender que a explicação é um pouco longa para uma pesquisa que não objetiva salvar vidas e nem deixar o mundo mais tecnológico. Porém, pode ser que futuramente isso aconteça.

O termo ‘pesquisa básica’ foi definido por Vannevar Bush, diretor do Office of Scientific Research and Development na década de 1940. Em um período em que as pesquisas científicas estavam voltadas para finalidades bélicas, o então presidente dos EUA, Franklin Roosevelt, solicitou a Bush a elaboração de um documento contendo previsões para a pesquisa em tempos de paz. O relatório Science, the endless frontier foi publicado em 1945 e continha premissas de Bush por ele resumidas em duas máximas: “a pesquisa básica é realizada sem pensar em fins práticos” e sua principal contribuição se destina “ao conhecimento em geral e ao entendimento da natureza e de suas leis”.

O relatório de Bush norteou políticas nacionais de Ciência e Tecnologia em diversos países (inclusive Brasil), mas foi a partir da publicação do livro O quadrante de Pasteur – A ciência básica e a inovação tecnológica do cientista político Donald Stokes (Editora Unicamp, 2005) que a discussão sobre finalidades e tipos de pesquisa se desenvolveu. Em seu trabalho, Stokes propõe que a pesquisa seja classificada em: básica – que objetiva o avanço do conhecimento e é exemplificada pelo trabalho de Bohr sobre a estrutura atômica e física quânticas; aplicada – voltada para o desenvolvimento tecnológico e ilustrada por Thomas Edison e a luz elétrica; e pesquisa que abrange ambas vertentes – simultaneamente útil para o avanço do conhecimento e desenvolvimento tecnológico, como as investigações de Pasteur, que contribuíram para avanços no conhecimento sobre a microbiologia e para aumentar a durabilidade de alimentos.

fig1

Figura 1. O quadrante de Pasteur proposto por Stokes: exemplos de a pesquisa básica (que contribui para o avanço do conhecimento) representada por Bohr, pesquisa aplicada representada por Edison e pesquisa simultaneamente básica e aplicada, representada por Pasteur

Apesar das classificações da pesquisa serem úteis em determinadas discussões e circunstâncias, conceituar a ciência em básica e aplicada faz pouco sentido já que ambas representam etapas de um mesmo processo. Por se situar na fronteira do conhecimento, o objetivo principal da pesquisa pura é caminhar no sentido de reduzir as incertezas. Tais pesquisas estruturam e provêm bases para elaboração de conceitos sólidos necessários para a pesquisa aplicada.

fig2

Figura 2. A ciência básica, assim como uma árvore, fornece a estrutura e base necessárias para o desenvolvimento de projetos que gerem frutos

Enquanto base de tecnologia e inovação, a ciência básica pode ser considerada também uma base para o desenvolvimento. Porém, apesar de serem etapas de um mesmo processo, pesquisas que resultem em inovações em curto prazo, tangíveis à sociedade são consideradas mais importantes que pesquisas básicas, muitas vezes vistas como excentricidade científica. Especialmente em tempos de crise é comum que investimentos em pesquisa sejam questionados e a ciência básica é especialmente ameaçada – uma vez que o financiamento depende em grande parte (variável entre os países) do Estado. O apoio do setor privado não é incomum, porém, em geral ele ocorre após grande investimento público, mesmo em setores altamente inovadores e rentáveis como farmácia e energias renováveis. De acordo com a economista Mariana Mazzucato em seu livro O Estado empreendedor (Companhia das Letras, 2014), setores como biotecnologia, nanotecnologia e internet receberam investimentos do setor privado após entre 15 e 20 anos de grande investimento sendo feito pelo Estado.

Nem toda pesquisa básica servirá de base para uma futura pesquisa aplicada, mas quase toda pesquisa aplicada se sustenta em pesquisas básicas. Assim, a pesquisa básica de hoje pode ser a pesquisa aplicada do futuro. São vários os exemplos de pesquisas sem propósito imediato que acabaram por proporcionar tecnologias das quais somos hoje altamente dependentes. O efeito quântico observado em filmes finos compostos por camadas alternadas de metal ferromagnético e não-ferromagnético observado pelos físicos Albert Fert e Peter Grünberg em 1988 possibilitaram a compactação de discos rígidos e a popularização de computadores e mp3 players. Graças à contribuição valorosa de James Clerk Maxwell, que impulsionou pesquisas relacionadas ao magnetismo e eletricidade, e de Heinrich Hertz, que demonstrou a existência da radiação eletromagnética, foi possível criar o rádio. Guglielmo Marconi inventou, na verdade, um detalhe técnico do rádio, o coesor, um dispositivo receptor que já caiu em desuso. As observações de Maxwell e Hertz não tinham empregabilidade imediata. Fizeram um grande trabalho intelectual sem propósito utilitarista, até que Marconi, um inventor sem participação no desenvolvimento científico, mas com grande habilidade técnica e um coesor deu um grande passo no sentido do desenvolvimento tecnológico. Outros exemplos de pesquisas básicas que resultaram em tecnologias de ampla empregabilidade incluem fibras ópticas, exames de ressonância e GPS.

 

fig3

“Eu estava apenas friccionando gravetos por diversão – eu não percebi que estava fazendo pesquisa básica.”

Investir e valorizar a pesquisa significa investir em tecnologias e aumentar as chances de resolução de entraves, problemas, cura de doenças e de aprimorar tecnologias existentes, o que representa a possibilidade de um futuro mais próspero. De acordo com Vannevar Bush “uma nação que depende de outras para obter conhecimento científico básico novo será lenta em seu progresso industrial e fraca em sua situação competitiva no comércio mundial”.

Para além da utilidade imediata ou futura das pesquisas, a ciência é necessária na formação do tecido social. Avanços científicos, tecnológicos e econômicos são benefícios notórios, mas outros menos estudados, e muito importantes para o contexto social, foram apontados em um estudo dos cientistas políticos Benoît Godin e Christian Doré em 2005. No estudo, os pesquisadores apontam, dentre outros, benefícios culturais – resultantes da ampliação do conhecimento acerca de fenômenos naturais – que geram transformações nas habilidades e atitudes individuais, e benefícios organizacionais – decorrentes de pesquisas que exercem influência no mercado – culminam em impactos na gestão de empresas e instituições. Em seu livro O mundo assombrado por demônios (Companhia de Bolso, 1996), o grande astrofísico Carl Sagan discorre sobre quatro razões para justificar a difusão da ciência:

  1. É o caminho para que nações subdesenvolvidas saiam da pobreza, da dependência e do atraso: “Ela faz funcionar as economias nacionais e a civilização global.”
  2. É um sistema de alerta: “A ciência nos alerta contra os perigos introduzidos por tecnologias que alteram o mundo, especialmente o meio ambiente de que nossas vidas dependem.”
  3. É uma possibilidade de responder antigas e fundamentais questões inerentes à vida e nossas origens, representa possibilidade de conhecer melhor universo que habitamos, a sociedade que criamos e a nós mesmos: “A longo prazo, a maior dádiva da ciência talvez seja nos ensinar, de um modo ainda não superado por nenhum outro empenho humano, alguma coisa sobre nosso contexto cósmico, sobre o ponto do espaço e do tempo em que estamos, e sobre quem nós somos.”
  4. A ciência e a democracia possuem valores semelhantes: “Os valores da ciência e os da democracia são concordantes, em muitos casos indistinguíveis. A ciência e a democracia começaram – em suas encarnações civilizadas – no mesmo tempo e lugar, na Grécia dos séculos VI e VII a.C. A ciência confere poder a qualquer um que se der ao trabalho de aprendê-la (embora muitos tenham sido sistematicamente impedidos de adquirir esse conhecimento). Ela se nutre – na verdade necessita – do livre intercâmbio de ideias; seus valores são opostos ao sigilo. A ciência não mantém nenhum ponto de observação especial, nem posições privilegiadas. Tanto a ciência como a democracia encorajam opiniões não convencionais e debate vigoroso. Ambas requerem raciocínio adequado, argumentos coerentes, padrões rigorosos de evidência e honestidade. A ciência é um meio de desmascarar aqueles que apenas fingem conhecer. Um baluarte contra o misticismo, contra a superstição, contra a religião mal aplicada a assuntos que não lhe dizem respeito. Se somos fiéis a seus valores, ela pode nos dizer quando estamos sendo enganados. Ela fornece a correção de nossos erros no meio do caminho.”

A ciência é capaz de promover, além de avanços tecnológicos e econômicos, benefícios sociais e culturais. Assim, investimentos em pesquisa representam melhores possibilidades em um amanhã que chegará de qualquer forma. A ciência representa uma ponte para o progresso, além de algo positivo na humanidade – a constante busca por conhecimento. Muitas vezes os avanços tecnológicos cobram custos. Tecnologias podem ocasionar novos problemas inexistentes anteriormente – como a quantidade de plástico presente nos oceanos – o que demanda pesquisa e busca por soluções, mas acima de tudo, maior responsabilidade para lidar com o progresso científico e suas consequências. Apesar de algumas vezes ter sido mal utilizada no curso da história, a ciência representa o melhor caminho para democracia e para um sistema mais justo. O fomento e valorização da ciência é do interesse de todos e é um pré-requisito para sociedades bem estruturadas, inclusivas e democráticas.

Referências

Bush V. Science: The Endless Frontier. Reproduzido em Revista Brasileira de Inovação. v. 13, n. 2 jul./dez. 2014.

Godin B, Dore C (2005) Measuring the Impacts of Science; Beyond the Economic Dimension, Urbanisation INRS, Culture et Société. Helsinki, Finland: Helsinki Institute for Science and Technology Studies. http://www.csiic.ca/PDF/Godin_Dore_Impacts.pdf

Mazzucato M. O Estado empreendedor. São Paulo: Companhia das Letras, 2014.

Stokes DE. O quadrante de Pasteur: a ciência básica e a inovação tecnológica. Campinas: Unicamp; 2005.

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Comments 1

  1. rbozelli says:
    7 anos ago

    Ei Anna, excelente artigo. Num momento em que é necessário dizer estas coisas. Com a democracia a risco a ciência está a risco, e vice-versa. Ainda ontem, em uma mesa sobre divulgação científica em um encontro de biólogos, falei sobre o mundo assombrado por demônios e você no texto salientou de forma brilhante este aspecto da ciência, mais que sua mera utilidade. Parabéns!

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