Uma parte importante da ecologia é o estudo das interações ecológicas. Afinal, os seres vivos estão sempre interagindo entre si. Por exemplo, você já viu um beija-flor visitando uma flor? É uma interação chamada mutualismo, pois o beija-flor se beneficia se alimentando do néctar e a planta também se beneficia com a polinização. Já viu um guepardo caçando uma zebra na TV? É outra interação, uma predação. Pegou uma virose? Outra interação: parasitismo. E existem muitos outros exemplos. A natureza é cheia de exemplos incríveis de interações.
Vamos falar mais de predação. Nem sempre a predação é algo tão dramático, como a caça do guepardo no exemplo acima. Pode ser uma aranha comendo um inseto que caiu em sua teia. Pode ser também uma cotia comendo uma semente.
Uma cotia comendo uma semente??? Sim! Predação é quando um indivíduo captura e mata outro. Uma semente já contém um indivíduo inteiro daquela planta, apesar de estar em um estágio de vida muito jovem (embrião). Portanto, herbívoros que comem sementes também são predadores. Lembre-se disso da próxima vez que abrir um saquinho de amendoins.
Como este é um blog de limnologia, não poderia deixar de falar de águas doces. Vamos pensar em cladóceros, que fazem parte do plâncton. A maioria de suas espécies é herbívora, e é presa de outros organismos, principalmente invertebrados predadores (como larvas de Chaoborus, um tipo de mosquito) e peixes. A predação possui algumas consequências interessantes sobre as suas presas. A mais óbvia é a remoção (morte) de alguns indivíduos, o que pode levar ao declínio da população. Há casos em que em um lago sem peixes havia uma próspera comunidade de cladóceros, que desapareceram após a introdução de peixes predadores.
Para os cladóceros, outra consequência depende de quem é o predador. Peixes planctívoros encontram suas presas pela visão. Com isso, eles capturam os organismos maiores, que eles conseguem enxergar melhor. Já os invertebrados predadores encontram suas presas pela movimentação da água, e predam de preferência os organismos menores, que eles conseguem manipular e comer.
Portanto, a predação por peixes leva a comunidade de cladóceros a diminuir de tamanho, tanto pela morte dos organismos maiores quanto por adaptações dos cladóceros, que passam a produzir descendentes maiores. Já a predação por invertebrados aumenta o tamanho dos indivíduos: organismos nascem maiores, e muitas vezes com prolongamentos que tornam os indivíduos menos propensos a sofrerem predação.
Sendo assim, a mesma interação ecológica pode produzir efeitos opostos, dependendo de quem está envolvido. Além disso, a situação fica mais complexa quando a gente lembra que, na maioria dos lagos, existem os dois tipos de predadores. Imagina se você fosse o cladócero, o que faria? Produziria filhos maiores para evitar os Chaoborus, ou filhos menores para escapar dos peixes? Complexo, não? Então, da próxima vez que você ver as águas calmas de um lago, pense na predação e em todas as interações ecológicas que acontecem ali.