Já dizia minha avó: “Por fora bela viola, por dentro pão bolorento”. Não conheço a origem do ditado, mas em época de luta contra a contaminação por parte do “novo coronavírus”, responsável pela “covid-19”, faz sentido. Precisamos ter atenção com hábitos básicos de higiene. Manter tudo limpo. Mas será que isso garante que estamos livres da infecção por este ou outros vírus ou bactérias?
Figura: Higienização das mãos, uma das principais formas de combater o Coronavírus e outras doenças. Fonte: Freepik/Lana Sham.
Antes disso, precisamos observar algumas definições importantes.
Limpeza: remoção da sujeira de um material. Por completo ou parte dele. É importante, pois reduz a carga microbiana do material, favorecendo a eficácia dos outros processos.
.Figura: Cascão lavando as mãos. Combate ao “novo coronavírus”. Fonte: Instagran/@turmadamonica.
Esterilização: Acontece, quando ocorre a eliminação ou destruição completa de todas as formas de vida microbiana. Pode ser realizada através de processos físicos ou químicos.
Desinfecção: Processo pelo qual um material ou determinada superfície, sofre a eliminação de microrganismos, exceto as que formam esporos.
Descontaminação: Processo pelo qual um material tem removidos os microrganismos patológicos, tornando-o seguro.
Saneantes: “Substâncias ou preparações destinadas à higienização, desinfecção, desinfestação, sanitização, desodorização e odorização de ambientes coletivos e/ou públicos e lugares de uso comum” como determina a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) do Ministério da Saúde (MS).
A presença de microrganismos perigosos a saúde existe por toda parte, como escritórios, aeroportos, shoppings, academias de ginástica ou bares e restaurantes. Mas nada de desespero, a higiene é nossa grande aliada. No caso de gripes ou resfriados, a transmissão ocorre através de perdigotos produzidos por um simples espiro. As gotículas produzidas por um único espiro, se espalham dentro de um ambiente fechado, como uma sala. E esta contaminação pode permanecer por horas. Como podemos fazer para nos mantermos limpos e desinfetados? No primeiro caso água e sabão resolvem.
No caso da desinfecção, existem certos procedimentos importantes, que incluem uso de radiação ionizante ou UV, calor seco ou a vapor, filtração ou produtos químicos. No dia a dia em ambiente domiciliar, o meio mais eficiente refere-se ao uso de produtos químicos. Mas quais são, como atuam e de que forma devemos usá-los? Muitos produtos, usuais no passado em função de sua toxicidade, foram proibidos, como formol e fenóis. Mas lembrem-se, aquilo que vamos higienizar, ou seja, mãos, objetos ou outras superfícies, como chão e paredes, devem estar limpos, para que o processo de higienização seja eficiente.
Figura: Produtos de limpeza e higienização de objetos e superfícies. Fonte: https://www.gazetadopovo.com.br/haus/organizacao/perigo-em-casa-saiba-quais-produtos-de-limpeza-nao-podemos-misturar/
Álcoois
Podem ser utilizados os álcoois etílico e isopropílico, sendo o primeiro o mais comum. O segundo, geralmente é utilizado em equipamentos eletrônicos, como celulares, por exemplo. São germicidas rápidos, eliminando bactérias, fungos e vírus, não agindo contra os esporos bacterianos. Sua concentração ótima dá-se entre 60 e 90% em massa, sua atividade caindo muito com concentração abaixo de 50%. Suas propriedades são atribuídas ao fato de causarem desnaturação das proteínas quando na presença de água. Muito utilizado para desinfecção das mãos sob a forma de gel. Sendo recomendado em aplicações de forma direta, no local afetado, previamente limpo, com auxílio, se desejar, de algodão ou gaze.
Figura: Fórmulas estruturais dos álcoois (a) isopropílico e (b) etílico.
O uso de álcool em elevadas concentrações podem provocar acidentes, como incêndios, queimaduras, além de irritação da pele ou mucosas. Por isso, como agente de limpeza, sua venda está restrita a produtos com concentração em torno de 46% (ou 46o INPM). Este produto apresenta um risco muito menor, mas não possui ação efetiva com relação aos microrganismos.
De acordo com a ANVISA “A higienização de superfícies, bem como a assepsia das mãos…., são ações fundamentais para a mitigação da expansão da infecção…”. O Álcool Etílico 70o INPM é um dos principais agentes utilizados com este fim no combate ao “novo coronavírus”. É uma preparação oficinal descrita na Revisão 2, da 2º Edição do Formulário Nacional da Farmacopéia Brasileira. O Álcool Etílico em Gel 70o INPM, difere do anterior apenas pela adição de polímeros na sua formulação, que atuam como agentes espessantes.”
A graduação alcoólica de soluções comerciais no Brasil geralmente é expressa em termos de GL ou INPM. A primeira unidade expressa a graduação alcoólica em termos de volume (% v/v) e a segunda, em termos de massa (% m/m). A graduação GL refere-se ao físico e químico francês Joseph Louis Gay-Lussac. A segunda foi criada pelo Instituto Nacional de Pesos e Medidas, criado em 1961. Então uma solução 70o INPM corresponde a uma concentração em torno de 75o GL.
Água Sanitária
Solução aquosa com ação de alvejante e desinfetante, cujo ativo é o hipoclorito de sódio (NaClO). O teor de cloro ativo deve estar entre 2,0 e 2,5%, podendo conter apenas os seguintes componentes complementares: hidróxido de sódio, cloreto de sódio e carbonato de sódio. A fórmula base pode conter hipoclorito de sódio ou de cálcio como estabilizante.
Figura: Fórmula estrutural do hipoclorito de sódio.
Produto de baixo custo e, quando diluído, pode ser utilizado para higienizar os alimentos como frutas e verduras. Apresenta amplo espectro germicida, agindo sobre a membrana celular, inibindo enzimas envolvidas no metabolismo da glicose. Provoca danos no DNA e a oxidação de proteínas celulares. Como fatores negativos, ele é instável, inativo em presença de matéria orgânica, corrosivo para metais, possui odor desagradável e pode causar irritabilidade nos olhos e mucosas. Para limpeza da casa, por exemplo, recomenda-se o uso de um copo (200ml) para 10 litros de água.
Compostos quaternários de amônia
Estes compostos apresentam ação germicida, como agentes ativos catiónicos severos, possuindo atividade desinfetante poderosa. São produzidos pela substituição dos átomos de H do íon amônio (NH4+), por radicais alquila ou arilas (Rn).
Figura: Fórmula estrutural de um sal quaternário de amônia genérico. Onde Rn correspondem a radicais orgânicos alquilas ou arilas. E X representa um radical aniônico.
Cada um dos diferentes compostos quaternários de amônia tem sua própria ação antimicrobiana, atribuída à inativação de enzimas produtoras de energia, desnaturando proteínas essenciais das células e rompendo a membrana celular. São recomendados para sanitização do meio, como superfícies não críticas, chão, móveis e paredes.
Apesar de apresentarem vários benefícios, também possuem aspectos negativos. Os quaternários são difíceis de usar em formulações, uma vez que carecem de compatibilidade com muitos compostos, tornando-os ineficazes.
O cloreto de benzalcônio foi o primeiro composto derivado de quaternário de amônio a ser introduzido no mercado. Depois dele, surgiu uma série de outros compostos. Atualmente, são encontrados sais quaternários conhecidos como de 5a geração, sendo considerados mais eficazes, pois desinfetam em concentrações mais baixas.
Figura: Fórmula estrutural de cloreto de benzalcônio (cloreto de alquil dimetil benzil amônio).
Não se esqueçam! Apesar de estarem a nossa disposição nas prateleiras de supermercados, drogarias ou no comercio em geral, tais produtos, podem ser nocivos a saúde, se não forem bem utilizados. Sigam as instruções. Evite a mistura de compostos. Pois, além de ser perigoso, pode diminuir sua eficiência. Não deixem estes produtos ao alcance de crianças ou animais domésticos. Agindo corretamente, estaremos mais confiantes quanto a proposta. Ou seja: “Tá Limpo e Liberado”.
Links relacionados:
file:///C:/Users/claud/Downloads/11394-53178-5-PB.pdf
file:///C:/Users/claud/Downloads/Nota%20t%C3%A9cnica%20%C3%A1lcool%20gel.pdf
http://www.anvisa.gov.br/servicosaude/controle/controle_alcool.pdf
http://www.inmetro.gov.br/inmetro/oque.asp?iacao=imprimir
http://www.ipem.rj.gov.br/Instrumentos
http://www.saude.pr.gov.br/arquivos/File/NotaTecnicaAlcoolGelcompleto.pdf
http://www.scielo.br/pdf/rbspa/v16n1/1519-9940-rbspa-16-1-0066.pdf
https://docs.ufpr.br/~microgeral/arquivos/pdf/pdf/Esterilizacao.pdf
https://veja.abril.com.br/saude/um-unico-espirro-pode-contaminar-uma-sala-por-horas/
https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/7840/000558195.pdf?…1
parabéns Cláudio! Uma aula de química para ajudar no combate ao coronavírus.
Obrigado Laisa.
Espero que a “química” ajude o pessoal .
Valeu Claudio. Repassei até para uns amigos que ainda tem muitas dúvidas sobre a questão da higiene e o coronavirus.