Autores: Fernanda Zucoloto Domingues, Luisa Rodrigues dos Santos e José Gabriel Melo da Cruz
No mês de janeiro, com o aumento da temperatura e o consequente aumento da umidade relativa do ar, ocorreu uma alteração considerável no nível pluviométrico em diversos estados da região Sudeste brasileira. Essa alteração acarretou chuvas que atingiram principalmente os estados do Espírito Santo e Minas Gerais. No estado mineiro, Belo Horizonte registrou entre os dias 23 e 24 de janeiro chuvas que mediram 171,8 mm em 24 horas, representando o dia mais chuvoso da cidade em 110 anos de medição, onde deslizamentos de encostas, quedas de barrancos e inundações levaram a morte de 13 pessoas. Diante do cenário catastrófico que assolou o estado de MG, um debate antigo, porém muito pertinente, vem à tona acerca das políticas públicas de manejo e conservação de redes fluviais em todo o Brasil.
Uma prática muito comum na cidade de Belo Horizonte – MG, são as
canalizações. Esse procedimento é uma tentativa de “moldar” o curso de rios, córregos e ribeirões, e isso já vem acontecendo desde os anos 1920. A capital foi erguida sobre uma grande malha fluvial de cerca de 654 km, segundo a Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap), que possui uma porção significativa da sua extensão circulando no subterrâneo de ruas e avenidas que cortam a capital mineira.
Com isso, o crescimento cada vez maior da população, aliado à também
crescente ocupação do espaço urbano, que muitas vezes é feita de forma irregular, acarretou a impermeabilização do solo e no aumento expressivo no volume de água drenada a cada chuva. Fazendo com que, as obras que por décadas foram feitas com a promessa de suportar o curso d’água aliada ao aumento da construção de vias públicas e o embelezamento da cidade (Ocultando rios poluídos pela própria sociedade), se demonstrasse extremamente ineficientes.
Analisando as canalizações a partir da óptica de impactos na natureza, é possível perceber que essas obras representam diversos desequilíbrios para o ecossistema e a biodiversidade. Quando um rio é canalizado, diversas estruturas ambientais, que dão suporte e sustentam aquela rede, junto com toda a dinâmica de enchimento e esvaziamento sazonal daquele ambiente, são drasticamente alteradas. Com o desenvolvimento de um empreendimento para esse propósito, uma das primeiras coisas que é colocada em prática é a retirada das várzeas dos rios, fazendo com que aquelas áreas que estão prontas para suportar uma possível mudança no curso d’água ou até mesmo o alagamento de áreas adjacentes, seja substituída por uma grande parede de concreto que promete cumprir o papel da natureza de suportar a vazão do córrego.
Um fenômeno recorrentemente observado quando chove, é o sufocamento dos novos caminhos subterrâneos percorridos pelos rios seguido pelo aumento da pressão interna nas tubulações, fazendo com que, em diversas ruas Belo-Horizontinas, os bueiros explodam e retornem para o asfalto toda a água anteriormente acumulada no subterrâneo.
A maioria da população enxerga uma área de inundação como uma área
“imprópria” ou um desastre e é preciso transformar essa visão. Essas áreas são importantíssimas para o direcionamento e drenagem da água da chuva, que por consequência das canalizações, é a causadora das enchentes. Por isso é importante pensar em soluções que coletem a água das chuvas nesses lugares onde foram feitas canalizações, a fim de minimizar ou dar um fim aos super alagamentos urbanos.
Links relacionados:
https://exame.abril.com.br/brasil/belo-horizonte-discute-se-canalizacao-dos-rios-contribuiu-para-tragedias/
MESQUITA, Yuri Mello. Jardim de asfalto: água, meio ambiente, canalização
e as políticas públicas de saneamento básico em Belo Horizonte, 1948-Dissertação de Mestrado. UFMG, Belo Horizonte, 2013.
https://www.otempo.com.br/cidades/noventa-anos-de-canalizacao-1.1116227
https://oglobo.globo.com/brasil/chuva-em-bh-entenda-por-que-bueiros-explodem-em-uma-cidade-erguida-sobre-rios-24218867