Após realizar a disciplina de cinema e educação ambiental em 2018, no curso de pós-graduação em Ciências Ambientais e Conservação da UFRJ, e participar da elaboração do filme “O Que é Científico”, a ideia de fazer algo a mais com o cine documentário, não saiu da minha cabeça. Através da inscrição em uma nova disciplina em 2019, para realizar práticas interdisciplinares, toda aquela empolgação com o cinema novamente me energizou. Como produto desta última disciplina, os alunos foram orientados a produzir um trabalho independente do seu estudo de doutorado, no entanto, ainda dentro da temática do programa.
Diante disso, procurei elaborar um roteiro para um projeto audiovisual e um artigo de divulgação junto com a colaboração da Maria Silvina Bevilacqua, do Rafael Costa e da Renata Bacellar. Neste roteiro buscamos abordar um alerta sobre a degradação ambiental do Rio São João, em Casimiro de Abreu (RJ), uma vez que este rio já vem sendo estudado dentro do contexto de qualidade de água e conservação das comunidades biológicas há algum tempo por pesquisadores do Instituto NUPEM-UFRJ e outras universidades.
Eu e Silvina, já cientes da existência de um lindo projeto socioambiental envolvendo uma escolinha de vela neste rio, inserimos no contexto do roteiro uma abordagem sobre o quanto a mitigação de impactos e a preservação ambiental são também fundamentais para a manutenção de uma atividade cultural e esportiva na localidade. Diante disso, construímos uma história destacando a íntima relação das pessoas (dos jovens aos mais idosos) com o rio, com enfoque naqueles que vivem às margens do mesmo e permaneceram conectados com a vela. Além disso, não deixamos de mostrar a importância do projeto para a formação cidadã e para a geração de sonhos nas crianças e adolescentes em risco social que participam da escolinha.
Nesta jornada de roteirização que culminou na produção do filme, destacamos a percepção das pessoas envolvidas no projeto com as modificações ambientais provocadas no Rio São João, e o valor da prática da vela para fortalecer a conexão com a natureza deste ambiente. Durante a produção, ficou evidente como é sensível a percepção das crianças frente a poluição do rio, e como isso as afeta emocionalmente devido a sentirem que o Rio São João faz parte delas e de suas famílias.
Este sentimento de pertencimento, me traz a memória o dito “Ko au te awa, ko te awa ko au”, que significa “Eu sou o rio, o rio sou eu. Essa frase foi eternizada pelo povo Maori, indígenas tradicionais da Nova Zelândia, e entrou em evidência para todo o mundo durante a luta pelo reconhecimento dos direitos do rio Whanganui. Inclusive o Anderson Gripp, também autor deste blog, nos brindou a algum tempo atrás com um post bem bacana sobre o assunto.
Sem mais demoras, acho que o legal deste post é o leitor tirar um tempinho para assistir ao filme. Se trata de um curta-metragem de 29 minutos chamado Ventos do Rio São João: Valores e Culturas de Uma Escola de Vela. Ele foi produzido em 2019 e contou com a minha direção e edição, com a colaboração da Maria Silvina Bevilacqua na produção e com a parceria da Silvina, do Rafael Costa e da Renata Bacellar na roteirização e nas entrevistas. O filme se encaixa na temática de cidadania ambiental e aborda saberes e cultura(s) de uma comunidade envolvida com a realidade ambiental do Rio São João. O filme foi pensado para o público-alvo formado por crianças, adolescentes, gestores de recursos hídricos, tomadores de decisão, universitários, população local, comitê de bacias, agentes públicos, velejadores e investidores filantrópicos. O filme pode ser assistido no YouTube através da janela abaixo. Não deixem de conferir esse importante projeto socioambiental!
Parabéns pelo filme Rodrigo e Silva, ficou muito bom. Qualidade excelente. E assim pude conhecer uma bela iniciativa. Precisamos!!!