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O fazer científico vai além de seu método

Por Reinaldo Bozelli

LimnoNews por LimnoNews
03/09/2025
in Ciência
0
O fazer científico vai além de seu método

Figura 1: Vista aérea do lago Batata em 1987, Porto Trombetas, Pará. Fonte: Acervo Laboratório de Limnologia

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Pensar a prática científica não é algo novo. E se quisermos enfrentar tal desafio, já temos por onde começar. São muitas as obras clássicas sobre o tema, produzidas por autores como Popper, Feyerabend, Kuhn ou Chalmers. Estes autores já exploraram o tema e fizeram esforços gigantescos para pavimentar este caminho e facilitar a nossa vida, entregando-nos um (o) método científico.

Mas, para fazer ciência basta dominar o método científico?

Talvez não seja bem assim e por isto quero encaminhar esta reflexão de forma um pouco mais específica, ao focar no fazer científico ao longo da experiência, em curso em um Projeto no lago Batata, no Pará, uma iniciativa de quase 40 anos. Trata-se de focar em um fazer científico procurando além da prática de um método puro, rígido, isolado e imutável como muitas vezes a ciência é apresentada, mas como um processo dialético, histórico, mutável, inacabado e também com importante carga subjetiva em muitos de seus aspectos e/ou momentos. E então, tendo isto em conta, é certo que teria melhor apoio na obra de Bruno Latour, especialmente em dois de seus livros, Ciência em Ação e a Esperança de Pandora. De modo muito simplificado, Latour diz que “a ciência não revela verdades isoladas da realidade, mas constrói fatos ao mesmo tempo objetivos e sociais, por meio de redes de humanos e não humanos em constante negociação… a ciência exige olhar para seus bastidores — métodos, instrumentos, instituições e disputas — pois é nesse processo coletivo que a objetividade científica ganha força e legitimidade” (1).

Falar de um projeto produzindo conhecimento ambiental ininterruptamente por 40 anos é algo singular no meio acadêmico brasileiro, onde predominam esforços bem mais breves e são reduzidas as experiências de grupos que lograram manter uma iniciativa viva por tanto tempo. A singularidade principia por uma questão inédita de um impacto por um agente que à época, ainda não havia sido estudado (rejeito de mineração de bauxita), em um ambiente igualmente desconhecido (um lago amazônico de inundação, figura 1).

Figura 1: Vista aérea do lago Batata em 1987, Porto Trombetas, Pará. Fonte: Acervo Laboratório de Limnologia

Estudos prévios não havia. O arcabouço legal e de avaliações de impacto começava a ser estruturado. A sociedade só tinha olhos para o desenvolvimento (a qualquer custo). A Amazônia era o inferno verde, que devia ser domado e nossos governantes fardados só pensavam em lucrar (figura 2).

Figura 2: Material de propaganda na década de 1970 promovendo a ocupação
da Amazônia. Fonte: www.agenciacenarium.com.br

A academia (nos círculos ambientais) se arrepiava só de pensar em apertar a mão de um engenheiro metido com a exploração comercial de algum recurso natural, como se a aproximação com o setor produtivo significasse conspurcar a liturgia do fazer científico praticado na torre de marfim universitária (2).

Bom, se tínhamos desconfianças, eles também. Cientistas são todos malucos. Os biólogos? Todos hippies. Vivem no mundo da lua, não cumprem prazos, abraçam árvores. Querem encontrar todas as espécies do mundo e por isso fazem estudos que nunca acabam. Com este enredo, parecia ser difícil evoluir, mas depois de quase 40 anos fizemos muito samba e muitos campeonatos foram ganhos. Cem artigos publicados (3), dezenas de dissertações e teses defendidas. Gerações treinadas, mais de uma centena de profissionais envolvidos, gigabites de dados produzidos, dezenas de hectares de igapó recuperados e outros tantos em recuperação. Licenças ambientais obtidas, importantes descobertas sobre ambientes de inundação e conhecimentos divulgados para os pares, e para a sociedade. Nenhum número sequer censurado, nunca, nem mesmo quando apontaram para algo não tão bom. Mas estes são aspectos quali-quantitativos de uma ciência em seu apelo mais tradicional/usual e quero ir mais além, ao encontro do algo mais que faz da ciência este formidável empreendimento humano.

No remoto final dos anos 80, do século que já é passado, curtimos lentamente no tucupi (4) da incerteza, nosso planejamento de estudar o impacto, monitorar sua evolução, desenhar e executar a cura do lago Batata. O caldo da incerteza, cozido pelo empreendedor, tinha o panorama ambiental frágil da época, a reduzida experiência de interação com a universidade, o já eterno mantra da redução de custos e também a busca por um excessivo senso prático que seguramente nossa equipe ainda não possuía. O relacionamento tropeçava e, ao final de cada ano, com o relatório apresentado e o trabalho dado por terminado, éramos dispensados, nossos planos ruíam. Porém, alguns meses depois o cenário mudava e retornávamos com ânimo renovado. Com as lentes de Latour, que ainda não tínhamos, seria mais fácil entender que se tratava da a ciência em processo, “em ação”, cheia de disputas, incertezas, ajustes de métodos, persuasão e muita, muita retórica.

Uma significativa mudança veio no princípio dos anos 90 com a troca de gestores da empresa. Estes assumiram imbuídos da onda empresarial daqueles anos, a qualidade total. De nossa parte não recusamos o modismo, nem o olhar empresarial e juntos elaboramos um fantástico planejamento para o Projeto do Lago do Batata. Bem ao lado de atividades como monitoramento e recuperação de área impactada, algo que executivos e técnicos entendem razoavelmente, por se tratar de algo aplicado e resposta direta ao que é solicitado pelo órgão ambiental, plantamos uma ação denominada “experimentos especiais” – era ciência pura e sem limites. Assim, com liberdade de perguntar, apoio financeiro, logística e tempo para experimentar e a produção do conhecimento como resposta ao problema tratado, aos poucos consolidou-se uma nova forma de pensar a postura ambiental da empresa. Havíamos concordado que a melhor forma de tratar o passivo era reconhecer o erro e produzir ciência para que a sociedade tivesse no futuro, pela informação, melhores condições de lidar com tais situações.

Mais tarde, tal postura seria conhecida nos meios empresariais como proatividade, e seria uma característica de empresas que estão à frente das demais e são líderes na questão ambiental. Com tal mudança de mentalidade foi possível navegar sem grandes banzeiros (5) gerenciais por décadas, ainda que vez por outra, gestores ainda presos ao passado reativo, trouxessem algumas marolas financeiras e técnicas. Um exemplo didático ocorreu quando propusemos, mas não aconteceu, avançar em nossa abordagem limnológica pura e incorporar aspectos sociais ao projeto através da introdução de atividades de educação ambiental no processo de gestão ambiental do lago. Hoje, vinte anos depois, com novas mudanças gerenciais, e dos órgãos de controle ambiental e o auxílio catastrófico das mudanças climáticas, tais aspectos voltam a ser discutidos e tudo indica que farão parte do futuro da ciência no lago Batata.

De forma breve e pontuada tentei mostrar, a partir de um projeto de considerável duração (maior que todos os projetos com selo PELD do CNPq (6)) que o fazer científico pode ser medido pela régua quantitativa e qualitativa dos produtos acadêmicos que produz, mas que porém, tais números e informações são propriedades emergentes do sistema científico, que não estão previstas e nem reveladas nos produtos que ejeta. Dizer que a ciência tem bastidores talvez não seja a melhor forma de falar deste edifício, deste sistema complexo inter e intra-operante, por sugerir que coisas ficam escondidas.

A ciência é a mais fantástica das produções humanas e não vejo saída melhor que chamá-la de sistema, cujas partes e funções podem ou não estar visíveis, mas são inerentes e determinantes à sua existência. Isto pode parecer teórico demais e gostaria de retornar ao projeto do Lago Batata para concluir este breve texto de uma experiência que tenho vivido e segue operante hoje também com a ajuda da 3ª. geração de limnólogos que a iniciou.

No edifício da ciência papers são flashes que explodem e fazem parte do conjunto, mas é preciso que se entenda a necessidade de quem precisa a informação, sem prejuízo dos princípios éticos que determinam a finalidade da atividade de pesquisa das instituições públicas. Este edifício está revestido pela atuação transparente que constrói uma relação de confiança entre empresa, universidade, órgãos de controle ambiental e população. Este edifício deve ser gerido por atuação paciente, que sabe ouvir, e que quer através da relação com o setor produtivo formar jovens, nos quais acredita e aos quais delega posições de decisão e gestão. É sobretudo um fazer que não busca vantagens financeiras, mas o exercício confortável das suas funções. Jamais o lucro, mas uma visão de longo alcance, duradoura, pautada na justiça intergeracional e no pensamento adaptativo. Jamais se esquece que a ciência é uma construção humana, portanto, humana é, com seus defeitos, mas também com suas virtudes. É sobretudo um processo, um processo coletivo. Latour certamente complementaria dizendo que se trata de um processo cheio de negociações, controvérsias, práticas e redes que envolvem tanto humanos quanto não humanos (Figura 3). Pensar a prática científica também não é algo terminado. Trata-se de um desafio que evolui com nossa sociedade.

Figura 3: Diferentes momentos de construção do projeto em que atores
humanos com diferentes papeis (trabalhadores, pesquisadores, representantes
de órgão ambiental, da empresa, etc) aprendem, discutem, decidem e realizam
atividades que envolvem muitos outros atores não humanos como plantas,
animais, matéria orgânica, solo, água, etc. em busca do objetivo da
restauração ecológica do igapó impactado.

Saiba mais: Vídeo realizado pela Mineração Rio do Norte sobre o histórico e o estágio do monitoramento e das pesquisas ecológicas no lago Batata. https://www.youtube.com/watch?v=DoiTfQTdxmk

Notas:

(1) Síntese realizada com auxílio de IA.

(2) Expressão metafórica que se refere a um estado de isolamento ou distanciamento da realidade, especialmente no contexto de atividades intelectuais ou acadêmicas.

(3) Ver https://doi.org/10.1590/S2179-975X5922

(4) Caldo amarelo extraído da raiz da mandioca brava, utilizado na culinária amazônica, especialmente no Pará.

(5) É uma palavra usada na região amazônica e indica o movimento das águas, especialmente de rios, causado por embarcações ou ventos e tempestades.

(6) Importante programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração estruturado e financiado pelo CNPq desde os anos 2000.

 

Recomendação de Leituras:

 

Chalmers, AF 1993. O que é a ciência afinal? São Paulo, Ed. Brasiliense, 224p.

Feyerabend, P 2007. Contra o método. São Paulo, Ed. Unesp, 374p.

Kuhn, TS 2007. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo, Ed. Perspectiva, 260p.

Latour, B 2000. Ciência em Ação. Como seguir cientistas e engenheiros sociedade afora. São Paulo, Ed. Unesp, 438p.

Latour, B 2017. A esperança de Pandora. São Paulo, Ed. Unesp, 385p.

MRN 2024 Jornada de Restauração do Lago Batata https://mrn.com.br/olagobatatavive/

Popper, K 2014. A lógica da pesquisa científica. Ed. Cultrix, 456p.

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