Hoje eu quero falar sobre um assunto importante: zooplâncton. Por definição, o zooplâncton constitui organismos de vida livre na coluna d’água, não fotossintéticos, com pouca mobilidade em relação às massas d’água. Essa definição pode passar a impressão de que o zooplâncton são animais sem importância, imóveis, sem fazer nada, “deixa a vida me levar”. Espero te convencer até o final do texto que esta impressão é completamente errada.
Para começar, quem são estes organismos? Na água doce, há três grandes grupos zooplanctônicos: os rotíferos, cladóceros e copépodes, sendo estes últimos microcrustáceos. Em ambientes marinhos, a combinação é outra: rotíferos e cladóceros não são tão importantes, mas a diversidade taxonômica do zooplâncton é muito maior. Como o nosso foco aqui no blog é a limnologia, saibamos que mesmo com uma diversidade menor, estes três grupos são extrementente importantes.
Um exemplo clássico é o papel deles na cadeia alimentar: consomem as algas do fitoplâncton e, por sua vez, são consumidos por organismos maiores, como os peixes. Só que eles podem ser muito mais do que isso.
Todo organismo é influenciado pelas condições do ambiente, mas ao mesmo tempo, modifica o ambiente ao seu redor, nem que seja só um pouco. Pensemos nos rotíferos e microcrustáceos: eles também respiram, excretam, interagem com outros organismos. Ter estas funções vitais significam que eles já tem um papel em propriedades ecossistêmicas como o ciclo do carbono, ciclagem de nutrientes, produtividade, biomassa do sistema. E o quanto eles contribuem para isso tudo? Só agora estamos começando a tentar entender.
A chave para responder a pergunta acima está em uma área chamada diversidade funcional. Diversidade funcional consiste em olhar os atributos funcionais das espécies, ou seja, características ecologicamente relevantes, como tamanho corporal, alimentação, características fisiológicas, e muitas outras possíveis. Só olhando os atributos funcionais poderemos entender o papel do zooplâncton nos ecossistemas.
Aqui no laboratório, estamos tentando entender isso através de um experimento manipulativo: colocamos diferentes níveis de diversidade funcional zooplanctônica em mesocosmos, e veremos as diferenças resultantes nas propriedades do ecossistema. Esperamos, assim, entender a função dos organismos zooplanctônicos indo além de simples elo na cadeia alimentar.