O convívio com igualdade de direitos para diferentes grupos sociais ainda está longe do seu ideal. Essa é uma luta mundial. E no Brasil não é diferente. Talvez a educação fosse um caminho mais fácil para minimizar estas desigualdades, pois a Constituição prevê que:
“A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”.
Mas historicamente podemos observar que a educação também funciona como mecanismo de exclusão. Por isso, discussões sobre educação inclusiva vem ganhando espaço, reconhecendo que educação inclusiva requer reconhecer que os indivíduos possuem necessidades específicas, em função das diferenças pessoais. Sendo assim, as instituições de ensino devem estar preparadas para atender a estas demandas. Alguns aspectos são importantes como a estrutura física, o material adotado e a formação dos profissionais envolvidos.
No caso do ensino de ciências, um outro fator relevante é a linguagem científica. Muitas das palavras utilizadas apresentam um significado específico dentro da área científica, diferente do seu uso coloquial. Além disso, são utilizados termos com origem no latim ou grego. Esta já é uma dificuldade para qualquer aluno de ciências. Vamos pensar agora no caso de pessoas com deficiência auditiva. Muitas delas não utilizam a linguagem oral. Existe neste caso uma nova barreira, pois muitos termos utilizados na ciência ainda não possuem representação em LIBRAS (Linguagem Brasileira de Sinais – segunda língua oficial brasileira, através da Lei 10.436, de 24 de abril de 2002). E no caso das pessoas com deficiência visual? Como apresentar os conceitos científicos para este grupo de alunos? O mundo dos átomos e das moléculas, por exemplo. Com relação as pessoas que apresentam deficiência intelectual, devemos vencer as barreias com relação aos aspectos cognitivos. Estes são apenas alguns exemplos dos desafios com relação ao estudo das ciências.
E quanto ao ensino universitário? Estamos fora desta discussão, ou melhor dizendo, Inclusão? Não, claro que não. Essa barreira já foi quebrada através de vários exemplos isolados de estudantes que apesar de toda adversidade conseguiram ingressar e concluir um curso de Graduação, ou Pós-Graduação. Além da presença no quadro das universidades de professores e técnicos administrativos, que apresentam algum tipo de deficiência. Mas, agora através da Lei Nº 13.409, de 28 de dezembro de 2016, onde dispõe sobre a reserva de vagas para pessoas com deficiência nos cursos técnico de nível médio e superior das instituições federais de ensino, este acesso será incrementado. Já neste ano de 2017, na UFRJ, ingressou o primeiro grupo de alunos através desta reserva de vagas. Através do Fórum Permanente de Acessibilidade da UFRJ, estes novos alunos foram recepcionados na Universidade:
“A Universidade recebe pela primeira vez estudantes com deficiência por meio de ações afirmativas do Sistema de Seleção Unificada (Sisu). São esperadas 83 matrículas de alunos com algum tipo de deficiência, que vai de auditiva, visual e de locomoção a problemas cognitivos. O Fórum Permanente de Acessibilidade foi responsável pela acolhida dos estudantes, fazendo o mapeamento das necessidades individuais e apresentando-os às ações da Universidade”.
Com o objetivo de sensibilizar e informar sobre como tornar a Universidade mais acessível, foi realizado o 1º Encontro de Sensibilização UFRJ pela Acessibilidade (16 e 17 de agosto de 2017). Neste Encontro, fomos informados que estão ingressando no segundo semestre de 2017 mais de 200 pessoas com deficiência . Participaram deste encontro membros de toda a comunidade universitária, onde foram apresentadas algumas recomendações, como:
“Falar mais pausadamente, apresentar-se com nome e sobrenome, perguntar como é possível ajudar. Medidas simples, mas que fazem muita diferença quando o interlocutor não enxerga, por exemplo”.
Para atendermos estas demandas, é imperioso a busca pelas ferramentas necessárias. Com certeza, a Universidade não está preparada para receber tais alunos, e suas diferentes especificidades. Mas acredito que esta seja uma oportunidade ímpar para discutirmos acolhimento nas Universidades. Pois algumas questões não afetam apenas os alunos que apresentam algum tipo de deficiência, mas toda comunidade em geral. Um exemplo do cotidiano: um carro estacionado na calçada, será um obstáculo tanto para uma cadeira de roda como para um carrinho de bebê. Por isso, além de possibilitar o acesso com igualdade de direitos, o exercício do convívio possibilitará um aprendizado para todos os alunos, em função da vivência com alunos que apresentem diferentes tipos de deficiência.
O número de alunos que apresente algum tipo de deficiência vai aumentar consideravelmente nas comunidades Universitárias. E naturalmente, baterão a porta dos laboratórios em busca de uma vaga para sua Iniciação Científica. Devemos buscar soluções que de fato sejam inclusivas no exercício pleno da atividade científica, pautando pela segurança e dignidade destes alunos, futuros pesquisadores. Além disso, não podemos esquecer dos encontros científicos. Simpósios e Congressos deverão disponibilizar recursos para a participação de forma plena destes cientistas. Possibilitando que eles apresentem seus trabalhos, assim como sua participação nas discussões científicas. Observando tais desafios, devem ser intensificados estudos com relação a Acessibilidade e Inclusão destes alunos na comunidade acadêmica, tornando possível, não apenas seu ingresso, mas também sua permanência. Temos um longo processo, para que através do Acolhimento, possamos tornar a ciência Acessível, para que de fato ela seja Inclusiva.
Referências:
https://www.imprensaoficial.com.br/downloads/pdf/Constituicoes_declaracao.pdf
www.camara.gov.br/sileg/integras/821803.pdf
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/lei/L13409.htm
https://ufrj.br/noticia/2017/07/20/acao-afirmativa-para-pessoas-com-deficiencia-chega-ufrj
Muito bom o texto ! Vamos aprendendo e
Construindo um mundo mais equitativo!
Muito Obrigado Laisa. Devemos mudar o nosso “olhar” e a atitude em busca desse mundo mais equitativo. Abraços e bom dia.