A séculos o ser humano tenta entender os processos que ocorrem na natureza, observando, documentando ou até mesmo associando um determinado evento a alguma entidade religiosa. Sem dúvida nenhuma poderíamos aprender muito se conseguíssemos olhar a nossa volta, mesmo que por apenas alguns minutos do nosso corrido dia. Uma das personalidades mais conhecidas que tentou compreender a essência do mundo e suas interações foi o naturalista Charles Darwin em sua viagem a bordo do brigue Beagle (brigue é um tipo de embarcação a vela com dois ou três mastros) (fig 1).
O mundo tem muito a nos ensinar, se soubermos como olhar, é claro. O conhecimento é valioso e precisa ser compartilhado, algo que aos poucos aprendi a realizar em meu experimento na Lagoa da Mata. Em aproximadamente cinco meses que morei na Serra dos Carajás no estado do Pará, para executar o experimento do meu mestrado junto com outros estudantes, aprendi muito sobre a palavra ‘ensinar’.
Resumidamente, o experimento foi realizado baseado em mudanças climáticas, para ser mais preciso, com base da redução das chuvas prevista para aquela localidade. O experimento foi realizado na Lagoa da Mata, uma lagoa muito similar com as lagoas daquela região, pois são lagoas que secam totalmente nos períodos de seca. Colocamos 21 caixas d’água de 100 litros com um guarda-chuva (o guarda-chuva era para bloquear a entrada da chuva natural, afinal, queríamos entender o efeito da redução das chuvas, e não o inverso) dentro da lagoa para que ela mantivesse a mesma temperatura nas caixas, e utilizamos três tratamentos, um com o valor total das chuvas chamado de controle, e duas reduções, uma com redução de 20% e outro de 40% baseado no valor total (fig2). A chuva artificial era realizada manualmente com água da chuva previamente captada e filtrada em duas caixas de 1000 litros localizadas na margem da lagoa (fig3).
Esse foi um experimento nunca antes realizado, que levou aproximadamente um mês e meio de montagem com ajuda de 4 pessoas. Pelas imagens podemos ver que 21 caixas d´água dentro de uma lagoa (lagoa esta que é utilizada para visitação e educação ambiental) chamam um pouco de atenção, entretanto, não poderíamos imaginar o quanto de atenção esse experimento chamou.
Durante as coletas de amostras nas caixas (o qual fazíamos dentro de um barco), era comum aparecer grupos de pessoas na lagoa, tanto em visitação turística, quanto grupos de escolas e universidades (fig 4). E foi nessa oportunidade que, o que eu aprendi na lagoa realizando o experimento pôde ser compartilhado com outras pessoas. No início a melhor pessoa com uma excelente oratória era meu parceiro de trabalho Joseph (aluno de doutorado do Programa de Pós-graduação em Ecologia da UFRJ e responsável pelo o experimento citado acima), contudo, houve um incentivo dele em relação a passar a informação para o público. Uma das coisas mais interessantes é que, como essa lagoa é isolada e depende totalmente das chuvas da região, ela não possui peixes. Todavia, os visitantes vinham com o intuito de avisar algum tipo de animal de médio a grande porte, como por exemplo, antas, peixes, onças e até jacarés. Essa lagoa tem muito a nos ensinar, pois essa lagoa é totalmente dominada por larvas de insetos e outros tipos de invertebrados, e quando mostrávamos esses animais para o público, e era sempre gratificante ver a reação delas.
Posso dizer com toda convicção que dessas inúmeras visitações que ocorreram, as pessoas saiam com um acréscimo de conhecimento e uma outra visão do ambiente que as cercava. E de minha parte, ficava cada vez mais claro a minha admiração por essa esplêndida lagoa, sem contar a importância desse compartilhamento de informações, o qual adquiri todos os dias nessa beleza natural (fig 5).
Referências:
Imagem beagle: https://desenrolado.com/biologia/evolucao-biologica/exercicios-evolucao-biologica
Ricardo,
que experiência inesquecível. Sim, como muitos mestres e mestras que tivemos ao longo das nossas vidas.
Belo texto.
obrigado professor, sem sombra de dúvidas foi uma experiência incrível !!!