English version at the end
Olha para os lados, e vê que tudo está um tanto nublado.
Os dias se estendem, se anulam, param no tempo.
E depois de longos pesarosos dias,
sente novamente o prazer do som do riso de uma criança,
a maciez dos pelos de um gato da casa vizinha,
as rodas de um patins antigo que voltam a riscar o chão.
E quando menos perceber,
se lembra do que já foi motivo de rir até a barriga doer,
volta a resistência em desistir,
volta a sonhar os seus sonhos,
a esperança e o amor a vida
a fé
e uma nova melhor versão de si
Dentro do Laboratório de Limnologia da UFRJ há o Grupo de Pesquisa em Educação Ambiental e Ensino em Ciências – GPEAEC, onde há a discussão semanal de artigos escolhidos de acordo com os interesses dos alunos participantes do grupo, abrindo também oportunidade para a participação de outros alunos interessados nessas reuniões, além das possibilidades de receber convidados que queiram discutir com o grupo algum tema relevante para ambos.
Em abril foi discutido um artigo de minha escolha: “Educação Ambiental e Movimentos Sociais: reflexões e questões levantadas no GDP”. O artigo trata de levantamentos de possíveis temas para pesquisas com relação a Educação Ambiental e movimentos sociais, discutido durante o evento “Encontro de Pesquisa em Educação Ambiental – EPEA’. Como explicitado logo no resumo do artigo, o grupo teve a finalidade de contribuir com: “a identificação das principais questões de pesquisa, o diálogo entre educadores e educadoras ambientais e militantes de movimentos sociais e a promoção de estudos que salientam e reconhecem a importância de tal relação no contexto histórico e sócio-político contemporâneo”.
Por que escolhi esse artigo
O interesse em discuti-lo no grupo veio através da vivência que tive em um movimento social voltado para a luta em prol do saneamento e meio ambiente. Mas o que é um movimento social? É a organização de grupos sociais em busca de libertação e superação de alguma forma de opressão, atuando na produção de uma sociedade modificada. Uma ação em grupo voltada para a realização dos mesmos objetivos, sob orientação de princípios comuns e sob uma organização diretiva mais ou menos definida. (SCHERER-WARREN,1987).
E esse movimento tem também como objetivo a sensibilização ambiental, e por isso há a possibilidade de relacioná-lo com a educação ambiental.
Minha relação com o movimento social
Dentro do movimento social, eu pude ter a oportunidade de aprender muito sobre como as decisões políticas podem refletir na qualidade do meio ambiente e na qualidade de vida das pessoas, e isso me motivou também a atuar nas ações do próprio movimento, buscando motivar a participação e a troca de experiências das pessoas nas atividades. A primeira atividade realizada foi de um evento na praça do bairro, para a sensibilização dos moradores com relação à coleta seletiva, que consistiu em coletar materiais recicláveis, de forma simbólica, durante uma manhã, o que me permitiu sentir que as mudanças pela própria população é possível, porque de alguma forma estávamos despertando uma curiosidade pela novidade da atuação. Mesmo com todos os atos públicos feitos durante minha vivência no movimento social, não foi possível captar o interesse das pessoas de participarem do movimento social, apesar de ser possível observar que já havia interesse pelo assunto nas pessoas, já havia uma noção da necessidade de mudança, mesmo sem exatamente saber o porquê. A atuação do movimento acaba sendo mais impactante quando constrói um relacionamento com outros grupos, outras organizações sociais e mesmo moradores de forma individual.
Essa falta de feedback ou de iniciativa por parte de algumas das constantes organizações com as quais o movimento mantém diálogo foi um dos motivos do meu interesse em pensar como aumentar o interesse dessas pessoas ou organizações sociais. Passaram a surgir questões sobre como melhorar a ‘imagem’, a abordagem inicial do movimento social, para seduzir o interesse dessas e novas organizações; A reflexão sobre diferentes estratégias de abordagens iniciais que o movimento poderia utilizar nos atos públicos ou de menos frequência para tentar sensibilizar ambientalmente através de assuntos que o movimento sempre trabalha; E como identificar e cultivar interesses com relação a justiça ambiental nas pessoas, de forma que não necessitem do movimento social para realizar qualquer ação, mas para que o movimento seja um catalisador de novos grupos, novos movimentos que atuam autonomamente, e passem a enxergá-lo como um parceiro, uma motivação, e não um grupo para se tornarem dependentes.
Atuando ainda no movimento, meus questionamentos ficaram cada vez mais intensos, me guiando em busca de otimizar a atuação do movimento nos diferentes espaços em que se envolvem. O movimento segue resiliente, da forma que podem agir na sua realidade, se adaptando efetivamente as mais diversas situações em que o movimento é colocado. E ao acompanhar suas ações, me permitiu observar que mesmo estando ou não conscientes de suas fragilidades em agregar novas pessoas ao movimento, ou na sensibilização dos indivíduos, eles continuam engajados, sempre em busca de novos conhecimentos e novas soluções, e a união genuína desses interesses em comum, com a ajuda da troca de experiências com outros movimentos, possibilita uma base frutífera para a geração de soluções criativas e cada vez mais sensíveis à realidade de suas limitações.
A relação do movimento social com a Educação ambiental
O movimento percorre um caminho no sentido de uma formação política e ambiental de seus membros, através da participação em eventos universitários, de outros movimentos sociais, grupos, coletivos ou mesmo eventos políticos, que tem como principal objetivo o diálogo sobre o meio ambiente, desenvolvimento urbano, conjuntura política e social, e a troca de experiências sobre as diversas estratégias de enfrentamento de grupos de cidadãos organizados. Essa troca permite a auto-avaliação constante de suas ações, assim como a elaboração de novas estratégias para as lutas das quais o próprio movimento está engajado.
Eles se reúnem periodicamente para discutir e avaliar o andamento das ações planejadas, e novas possibilidades de ações. Dessas reuniões, sempre surgem novas ideias que tornam-se novos objetivos a serem almejados, sempre pesando uma atuação contínua nos espaços já abertos ao movimento, e a procura por novos espaços de diálogo.
Há a utilização dos conhecimentos aprendidos nos eventos, somado com os conhecimentos adquiridos com suas próprias lutas, e abrem oportunidades para ministrar palestras, oficinas e rodas de conversa que possibilitem o diálogo e a troca de conhecimentos com diversas organizações sociais no bairro, como ONGs, igrejas, escolas e associação de moradores. Nesses espaços, tentam fazer um resgate de uma cidadania cada vez mais participativa, e um grande esforço em sensibilizar ambientalmente através da exposição sobre a atuação do movimento e suas descobertas com relação aos problemas ambientais e políticos e suas consequências para a vida de todos.
Das organizações sociais que o movimento dialoga, percebe-se que não há limite de idade, sendo desde crianças à idosos. E foi esses diferentes públicos com que o movimento tenta construir relações que contribuiu para que eu sentisse a necessidade de haver a reflexão do movimento sobre diferentes abordagens para a Educação Ambiental que realizam.
E apesar dos resultados das ações do movimento vir gradualmente, também não significa que os resultados serão mantidos, ou que serão possíveis de serem percebidos pelo movimento. Mas o movimento com certeza está indo na direção certa quando vemos que ele foi capaz de estimular a coleta seletiva com alguns moradores e organizações através da mediação com cooperativas de reciclagem. É um trabalho minucioso, onde importa mais para o movimento a continuidade desses relacionamentos e sua profundidade nos diálogos do que a expansão da coleta seletiva no bairro.
Contribuições do artigo para entendimento da educação ambiental no movimento social
Analisando a atuação do movimento social pelas visões contribuídas no artigo, o movimento se pauta principalmente na busca de oportunidades de manter relações e ações contínuas, gerando confiança, realizando práticas educativas não-formais que promovem uma cultura de resiliência e de questionamento das estruturas sociais impostas, estando para além do movimento ser capaz de acumular conhecimentos e repassá-los. A verdadeira Educação Ambiental ‘está em se manter a procura de uma libertação autêntica, na práxis, que implica a ação e a reflexão dos homens sobre o mundo para transformá-lo’ (FREIRE, 1988).
Não há como dissociar a Educação Ambiental deste movimento, sendo um de seus principais alicerces a procura de espaços para promovê-la. O movimento, que é em prol do meio ambiente, é constituído por professores, universitários, moradores do bairro, promove a educação ambiental através das mais variadas formas, ao fazer uso de modelos universitários para repasse de conhecimento, como palestras, oficinas, rodas de conversa em roda, e atividades lúdicas feitos com os conhecimentos levantados pelo movimento.
Pode ser pensado que os movimentos sociais, pela facilidade de abrir diálogos com diversas pessoas e organizações sociais, são bem relevantes para a pesquisa, diálogo e atuação conjunta com educadores ambientais quando seu objetivo central é a discussão sobre o meio ambiente. Ele abre um leque de infinitas possibilidades para os educadores ambientais colocarem em prática seus conhecimentos, e testar novas formas de passar esse conhecimento por poderem atuar nos mais variados espaços informais, fazendo com que tenham mais tranquilidade ao se expressarem, tendo o apoio e motivação de todo o movimento social em cada ação.
Também há a identificação desse tipo de movimento social como sendo decisivo para a construção de sociedades sustentáveis que garantam a preservação da diversidade cultural e biológica, para os que adotam a perspectiva da totalidade natural e da práxis humana (LOUREIRO, 2008).
Referências Bibliográficas
SCHERER-WARREN, Ilse. Movimentos Sociais. 2a. ed. Florianópolis: UFSC, 1987. 150p. (Série Didática) – Disponível em: http://www.institutosouzacruz.org.br/groupms/sites/INS_8BFK5Y.nsf/vwPagesWebLive/DO8RAPEU?opendocument
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 18 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.
LOUREIRO, Carlos Frederico B. Educação Ambiental e Movimentos Sociais: reflexões e questões levantadas no GDP. Pesquisa em Educação Ambiental, São Paulo. v. 3, n.1, p. 187 – 201. 2008
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Environmental Education and Social Movements
look to sideways, and see that everything is somewhat cloudy.
The days stretch, annul, stop in time.
And after long sorry days,
feels again the pleasure of the sound of a child’s laughter,
the softness of the hairs of a cat from the neighboring house,
the wheels of an old rollerblades that scratch the floor again.
And when you least notice,
remembers what was already reason to laugh until the belly ache,
returns the resistance in not giving up,
back to dreaming your dreams,
hope and love life,
faith,
and a new better version of you
Within the Laboratory of Limnology of UFRJ there is the Environmental Education and Science Teaching Research Group – GPEAEC, where there is the weekly discussion of articles chosen according to the interests of the students participating in the group, also opening opportunity for the participation of other students interested in these meetings, in addition to the possibility of receiving guests who want to discuss with the group some topic relevant to both.
In April, an article of my choice was discussed: “Environmental Education and Social Movements: reflections and issues raised in GDP”. The article deals with surveys of possible topics for research related to Environmental Education and social movements, discussed during the event “Environmental Education Research Meeting – EPEA ‘. As explained in the summary of the article, the group aimed to contribute to: “the identification of the main research questions, the dialogue between environmental educators and activists and the promotion of studies that focus on and recognize the importance of such relationship in the contemporary historical and sociopolitical context “.
Why do I chose this article
The interest in discussing it in the group came from an experience in a social movement focused on the struggle for sanitation and the environment. But what is a social movement? It is an organization of social groups in search of freedom and overcoming some form of oppression, acting in the production of a modified society. One group action directed to the achievement of common goals, under the orientation of common principles and under a more or less defined directive organization. (Scherer-Warren, 1987).
And this movement also aims the environmental awareness, and that’s why there is a possibility of relating to an environmental education.
My relationship with the social movement
Within the social movement, I have had the opportunity to learn a lot about how political decisions can reflect on the quality of the environment and people’s life quality, and this motivated me also to act on the movement steps, seeking to motivate participation and the exchange of experiences of people in the activities. The first activity was an event in the neighborhood square to raise awareness among residents about selective collection, which consisted of collecting recyclable materials symbolically during one morning, which allowed me to feel that changes by the population itself is possible, because somehow we were arousing a curiosity for the novelty of the performance. Even with all the public acts done during my experience in the social movement, it was not possible to capture people’s interest in participating in the social movement, but it was possible to observe that there was already an interest in the subject in people, there was already a notion of the need for change, even without exactly knowing why. The performance of the movement ends up being more impacting when it builds a relationship with other groups, other social organizations and even individual residents.
This lack of feedback or initiative on the part of some of the constant organizations with which the movement maintains dialogue was one of the reasons for my interest in thinking how to increase the interest of these people or social organizations. Questions have arisen about how to improve the ‘image’, the initial approach of the social movement, to seduce the interest of these and new organizations; The reflection on different strategies of initial approaches that the movement could use in the public acts or of less frequency actions; And how to identify and cultivate interests concerning to environmental justice in people, so that they do not need the social movement to take any action for them, but for the movement to be an encouraging example for new groups, new movements that act autonomously, as a partner, a motivation, not a group to become dependent.
Still acting in the movement, my questions became more and more intense, guiding me in search of optimizing the performance of the movement in the different spaces in which they are involved. The movement follows resilient, in the way that they can act in their reality, adapting effectively the most diverse situations in which the movement is placed. And by accompanying theirs actions, they allowed me to observe that, whether or not they are aware of their weaknesses in adding new people to the movement, or in the environmental awareness of individuals, they remain engaged, always in search of new knowledge and new solutions, and the genuine interests, with the help of the exchange of experiences with other movements, provides a fruitful basis for generating creative solutions that are increasingly sensitive to the reality of their limitations.
The relationship of the social movement with environmental education
The movement moves along a path towards a political and environmental formation of its members, through participation in university, other social movements, groups, collective or even political events, whose main objective is the dialogue about the environment, urban development, political and social conjuncture, and the exchange of experiences on the different coping strategies of organized citizens groups. This exchange allows the constant self-evaluation of their actions, as well as the elaboration of new strategies for the struggles of which the movement itself is engaged.
They meet periodically to discuss and evaluate the progress of planned actions, and new possibilities of actions. From these meetings, new ideas are always emerging and become new goals to be aimed, always relying more on a continuous action in the spaces already open to the movement, and the search for new spaces of dialogue.
There is the use of the knowledge learned in the events, along with the knowledge gained from their own struggles, and they open up opportunities to teach lectures, workshops and round of conversations that allow dialogue and exchange of knowledge with various social organizations in the neighborhood, such as NGOs, churches, schools and residents’ association. In these spaces, they try to make a rescue of an increasingly participatory citizenship, and a great effort to raise environmental awareness through the exhibition of the movement’s action and its findings regarding environmental and political problems and their consequences for the lives of all.
Of the social organizations that the movement dialogues, it is noticed that there is no limit of age, being from children to the elderly. And it was these different publics with which the movement tries to build relationships that contributed to feeling a necessity to have the movement’s reflection on different approaches to Environmental Education that they carry out.
And while the results of the actions of the movement come gradually, it also does not mean that the results will be maintained, or that they will be possible to be perceived by the movement. But the movement is certainly going in the right direction when we see that it was able to stimulate selective collection with some residents and organizations through mediation with recycling cooperatives. It is a meticulous work, where the continuity of these relationships and their depth in dialogues are more important to the movement than the expansion of selective collection in the neighborhood.
Contributions of the article to understanding environmental education in the social movement
Analyzing the work of the social movement through the visions contributed in the article, the movement focuses mainly in search opportunities to maintain relationships and continuous actions, generating confidence, performing non-formal educational practices that promote a culture of resilience and questioning imposed social structures, that it beyond of it’s capability to accumulate knowledge and to pass it on. The true environmental education ‘It is to maintain the search for an authentic freedom, in the praxis, that implies the action and the reflection of the men on the world to transform it’ (FREIRE, 1988).
There is no way to dissociate Environmental Education from this movement, being one of its main foundations the search for spaces to promote it. The movement, which is in favor of the environment, is made up of teachers, university students, neighborhood residents, promotes environmental education in a wide variety of ways, through the use of university models for passing on knowledge, such as lectures, workshops, talk, and playful activities made with the knowledge raised by the movement.
It may be thought that social movements, for the ease of opening dialogues with various people and social organizations, are relevant for research, dialogue and joint action with environmental educators when their central objective is the discussion about the environment. It opens a range of infinite possibilities for environmental educators to put their knowledge into practice, and to test new ways of passing this knowledge through being able to act in the most varied informal spaces, making them feel more relaxed in expressing themselves, having the support and motivation of the whole social movement in every action.
There is also the identification of this type of social movement as being decisive for the construction of sustainable societies that guarantee the preservation of cultural and biological diversity, for those who adopt the perspective of natural totality and human praxis (LOUREIRO, 2008).
Bibliographic References
SCHERER-WARREN, Ilse. Movimentos Sociais. 2a. ed. Florianópolis: UFSC, 1987. 150p. (Série Didática) – fonte: http://www.institutosouzacruz.org.br/groupms/sites/INS_8BFK5Y.nsf/vwPagesWebLive/DO8RAPEU?opendocument
LOUREIRO, Carlos Frederico B. Educação Ambiental e Movimentos Sociais: reflexões e questões levantadas no GDP. Pesquisa em Educação Ambiental, v. 3, n.1, pp 187 – 201.,